Querido,
escolhi alguns textos que podem combinar com as primeiras viagens da revista,
encaminhe os que você mais gostar e então me diga: onde há flor que cipreste?
Diz à estrada
Que o meu destino
É o desatino
Dessa desastrada
VIAJANDO
Um pouco de fumaça na paisagem
Eu diluída entre o que fui
E o que serei.
Um risco de sonho equilibra os pensamentos
Algumas idéias fogem
Por medo de se tornarem
Reais.
Sou o caminho e o caminhante
Pedras e gentes saem
De mim.
São meus desejos
E suas permissões de existir
Enquanto ignoro os outdoors
E o troco.
-Diabo! Esqueci o troco!
S.O.SP
Ela fala da cidade,
e das suas necessidades.
Falácias da velocidade,
nas artérias de um coração
que só bombeia sangue artificial
cor-de-verde-quando-foge,
chuvácida-nas-cara-pálidas,
viciadas!
Em trabalho e outras drogas,
tecnologia, relógicos, crack,
concreto, concreto...
Fuguere prum abstrato!
Vam'orá debaixo dum pédimanga
floriiindo de brincos doces,
cheio de pios nos ninhos,
muito verde pero it is not dollar
american friends, dinner, jungle, toalete,
quando a magafagafa pia, piam os cinco ma-ga-fa-ga-fi-nhos!
Se até a língua,
parente consanguínea da serpente hedônica,
pode ser adestrada,
os carros nas avenidas,
orquestrados por loucos semáforos,
também podem ser impelidos para o mar!
E ficarão lindos encalhados feito baleias jubarte,
com seus 1200 cavalos enferrujados em combate,
mudos e obsoletos,
enquanto as gaivotas pacíficas
nos levam até o verão...
DE DINÁ PARA DINÁ
Querida Diná,
minha amiga de todas as horas e auroras,
suplico que não se demore.
E acaso se demore, tantos dias passe fora,
não esqueça de me lembrar.
Ainda que não me escreva, por tanta coisa que veja,
procure às vezes se olhar.
Num lago, ou espelho, ou nos olhos alheios,
confira se é você que ainda está lá.
E quando pisar noutras terras vê e sente e cheira,
descobre com a língua o sabor da poeira
e não se importe em trazê-la consigo,
ainda que seja para me mostrar-
que cada povo permaneça com o que lhe é do lugar.
Despreocupa o pensamento das lembranças,
só assim será fresco o olhar.
Não estanque as horas, nem queira prendê-la entre os dentes,
deixe que escorra o tempo, sobre ele se deite, deleite, mas não...
Ah, Diná! Quantas tolices te recomendo,
eu que estarei aqui a espreitar, oferecerei minhas histórias às traças,
esperando que gargalhem à tua maneira, que besteira!
Te desejo os melhores amigos, mas nenhum como eu.
Os melhores lugares, as paisagens mais abundantes
e que te façam delirar,
mas que não te comovam por mais de uma temporada,
minha bondade às vezes é um pouco má e quase ordeno,
desejo com tripas e unhas o seu fastio,
o que sempre falta em qualquer e em todo lugar,
e então você pense em voltar.
Estarei onde estou agora,
presa num retrato ao lado dos teus poemas,
esperando que viva e que volte em carne-viva pra mim,
sua outra Diná.