Pesquisar este blog

[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





para chegar até lá, siga a seta vermelha:

ctrl + c -> aeromancia.blogspot.com -> ctrl + v -> barra de endereços -> enter



érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Meus queridos, Estou há já um tempo pra escrever um mail pra gente. Acontece que andei meio perdido por madrid, sem saber pra onde ir, meio decepcionado com tudo o que passa, as ocupações cheias de hippies, o PP ganhando na Europa, os italianos holandeses austríacos fascistas cretinos, a direita madrileña votando em massa, a esquerda nula, os catalães do contra em tudo, uma terceira geração de terroristas informativos, o bairro de malasaña como a lapa 10 vezes pior, no sentido de enfiar a cara na lama por querer, cheios de ecstasies na cabeça, quando na verdade tá longe o mangue, uma busca perpétua por locações, a falta de amor, de saber que a velocidade pode nos levar além, que a poeira tem a sua positividade, que os senegaleses não deviam precisar de papéis pra percorrer a terra, que necessitamos cada vez mais de nossos pés, mas sem ter que matar a cabeça, meu deus, sem ter que matar a cabeça. Mas enfim. A velha questão: como ser humanista quando já não existe humanismo? Porque o meu lance agora tá mais pra cyberpunk. Dados. 6 faces rodando ---> 7. Gostaria de escrever um texto mais cabeça. Mas agora é tudo intuição – pra variar. Foi mal pela repetição inevitável. Mas é como que uma tentativa de síntese (afe) de toda aquela discussão du ca. De qualquer jeito creio que este texto pode funcionar tanto pra apresentar pros “editores” (outsiders in), os careta, quanto pra galera, os nossos editores, a gente. Basta editar – cortar esse início, por exemplo. Capisce? No final da revista gostaria de colocar uma bibliografia geral que tenha a ver com o tema (de poesia, prosa, fotografia, filmes, lo que sea). Assim que daqui a pouco mando uma primeira proposta e a gente vai ampliando e ampliando e ampliando. A idéia é democratizar a informação pra que nossos caros leitores possam chacoalhar ainda mais a cabecinha. <<<.....................................................>>> Decidimos organizar os números das revistas de acordo com eixos temáticos, sincrônicos, através de propostas de curadorias encabeçadas por cada um dos colaboradores. Portanto pensei na do DESLOCAMENTO. Outros chamaram de exílio, e eu mesmo de errância. Assim que, como a revista não tem nome ainda, acho que o título do primeiro tema/número fica por enquanto também sem nome. Ou então uma proposta: A gente coloca no início da revista uma frase como, por exemplo, “se você quiser ver a sua vida passar na sua frente como um filme, basta viajar”. E embaixo fazemos uma colagem hipertextual com todas as palavras relativas: desterritorialização, exílio, deslocamento, errância, deriva, pontos de fuga, road movies, etc. E quando passamos o mouse por cima aparecem outras tantas significações. Uma colagem. O que vocês acham? De qualquer forma aqui embaixo escrevo algumas coisas para deixar claro o que penso em geral sobre o tema. Queria usar esse texto como base para um futuro editorial que fale da curadoria. Mas por enquanto é um esboço pra que vocês mandem o quanto antes seus trabalhos ou propostas de trabalhos. Quem achar que não precisa ler e que já sacou tudo, pula. O importante é que enviem todos os trabalhos que creiam ter a ver com o tema em geral. 0 – ROAD MOVIE Enquanto viajamos sentimos o mundo de duas maneiras opostas simultaneamente: por um lado somos a paisagem, vivenciamos todo um antropomorfismo, nos dilaceramos no que vemos – somos vários. Por outro, a janela que nos distancia do mundo, desse mundo que as vezes parece não existir. Sensibilidade etérea – “tan cerca y tan lejos” (pixado num muro em Girona). 1 – VIAGEM E MONTAGEM O homem é um animal que monta – Sergei Eisenstein. O homem é o único animal que habita todos os cantos do planeta. Interpretamos mal a frase “errar é humano” (errare humanum est), pois não significa que é próprio do homem o erro, mas que é próprio do homem a errância. Errar no sentido de vagar, de perambular, de buscar algo, de existir sem porto. (ver dicionário). – na internet sempre dizem que essa palavra não existe. Neste sentido também surge a frase “navegar é preciso, viver não é preciso”. “Preciso” não no sentido de “necessário”, mas no sentido de “precisão”. Mas e se não tivermos porto (como indica Caetano na letra da música “Argonautas”)?. Quando já não há mais um centro, quando as cidades genéricas são justamente aquelas definidas pela ausência de centro e identidade, surge de maneira sedada e vertiginosa a deriva. Morto o sujeito... o objeto estilhaçado... o sentido perdido... E uma das grandes temáticas atuais – num mundo onde parece não haver mais totalidades possíveis –, é justamente a do “a priori histórico”. Trata-se de uma nova formulação de princípios, quando a sistematização (a geometria) não surge mais no início, mas vai se delineando de acordo com o percurso. É como se a teoria das evoluções de Darwin abarcasse a própria teoria das evoluções. As próprias leis são mutantes. A relatividade total acaba por igualar tudo de acordo com um princípio de deslocamento – até chegarmos a um ponto em que a Europa ocidental se faz como uma espécie de continente de cidades sem povo, um grande trans-europe express, onde não há mais campo (tudo urbano) e onde a cultura popular se confunde com cultura de massas. Onde a identidade é apenas um objeto de consumo do turismo. Um grande parque temático. Gostaria de dar um exemplo diferente: Maximo Canevacci, em A Cidade Polifônica, diz que o estruturalismo só foi possível quando do surgimento das grandes metrópoles. Diz que o único e verdadeiro trabalho de campo de Levi-Strauss foi em São Paulo e Nova Iorque. E isto porque só com as grandes cidades que as culturas mais longínquas puderam se agregar e se unir numa teoria que pretendeu totalizar as mitologias mais variadas e distintas num único e grande sistema. Poderíamos concluir com isto que Levi-Strauss levou para o plano das idéias o que o deslocamento de populações inteiras produzia no mundo real, ou seja, uma grande fragmentação e justaposição de culturas. Da mesma forma poderíamos falar da poesia simbolista com relação à milenar teoria das correspondências, do cubismo com relação às esculturas africanas, do cinema de Eisenstein com relação ao ideograma. O homem é um ser que viaja, que constantemente cria profundidade de campo, que altera o sentido das coisas através de uma colagem contínua. Assim que, do deslocamento surge a montagem. E o trabalho de alguém que se utiliza de imagens de arquivo é justamente este. Deslocar (cortar) e relocar (colar - ressignificar). Daí podemos falar também das grandes feiras de antiguidades – feira da praça quinze (rio de janeiro), feria del rastro (madrid), fira dels encants (barcelona) marché aux puces (paris). A mistura das memórias oficiais e subjetivas, memórias orgânicas de indivíduos anônimos, tudo tornado mercadoria. Na verdade não tem nada que seja a tão alto nível um deslocamento (fragmentação e justaposição). E quando tiramos algo da ordem, esse algo nunca mais volta. 2 – FLANEUR Se você quer ver a sua vida passar na sua frente como um filme, basta viajar. Andy Warhol, My philosophy from A to B and back again. Portanto, falo de um ser que caminha e edita a informação que recebe ao mesmo tempo, criando sentidos continuamente. Como se existissem vários mapas possíveis, tudo dependendo do percurso. Gosto do conceito “estrutura dinâmica” de P. P. Pasolini. Trata-se de algo entre a nebulosa do pensamento e a sua representação-exteriorização. É como naqueles momentos em que falamos e formulamos as idéias ao mesmo tempo. Como um roteiro, que não é nem cinema e nem literatura, mas que está entre os dois. Tanto a palavra “roteiro” como “guion” são elas mesmas índices de algo necessário para desenhar um percurso. Como um esboço que está entre a idéia e a pintura. A palavra “desenho” que nos leva a “design”, “designo”, “destino”... sempre algo que se faz enquanto sucede. O caminhar do flaneur é justamente isso. Uma estrutura dinâmica que vive à deriva, entre a máxima atenção e a máxima dissolvência na paisagem, entre concentração e dispersão – como alguém que desperta e que continua neste estado mareado entre o sonho e a vigília. O homem-mercadoria que anda nos shoppings e centros das cidades, que olha e quer ser olhado, que caminha lentamente em busca de uma situação que o leve a uma espécie de identificação-estranhamento. Pois a mercadoria é justamente isso: algo que deve absorver as tendências, identificar-se, para criar uma diferença, para agregar valor. Comer o outro, para ser “eu mesmo” – segundo a antropofagia –, sempre num processo de fragmentação-justaposição. 3 – DAS TECNOLOGIAS Os olhos e os pés como as partes mais importantes do corpo. Os olhos para que a realidade entre em nós. E os pés para que nós entremos cada vez mais na realidade. Alfred Döblin, Berlin Alexanderplatz. Quando li estas frases pela primeira vez fiquei pensando por vários dias. Pois parece que cada vez mais temos nossos pés substituídos por nossos olhos – me refiro à possibilidade de deslocar-se sem sair do quarto. Com as web cams, os msns, skypes, facebooks, orkuts, googles, google earths (que hoje em dia conta com uma tecnologia fotogreafica de 360˚), erramos pelo mundo inteiro e por lugar nenhum. As cidades se refletiram no ciberespaço. “Like city lights, receding...”, como diz William Gibson. quando entramos no skype não estamos em São Paulo, no Japão, no Rio de Janeiro ou em Paris, mas num outro espaço, estamos literalmente no Skype. Voltamos ao tempo das cartas de amor. Da sensação vertiginosa do exílio. Exílio de nós mesmos, alienados, sem pés, exílio com relação ao outro, que vemos, mas que não podemos cheirar. 4 – PALAVRAS-CHAVE Gostaria agora de propor um glossário a ser expandido. Talvez seja interessante publicá-lo na revista através de uma outra versão expandida, a ser encomendada aos poetas – júlia, fernando, érika... me dirão o que pensam. Errância: conectada à questão do “a priori histórico”, trata-se do homem como estrutura que vive entre o perder e se encontrar. Deslocamento: alteração de sentidos através de uma montagem viajante – ressignificação. Exílio: a perda de algo pelo caminho, a busca pelo encontro, a distância e o vazio – sublimação fantasmática da errância (?). Desterritorialização, reterritorialização, multiterritorialização... o chão que se foi, a terra volátil... Devir... Linhas de fuga... Estranhamento, dissolvência... Flaneurie... 5 – DOS TRABALHOS Bem... agora queria invocar a todos do grupo para que enviem trabalhos relativos a estas questões e outras tantas, já que desejamos realizar uma montagem (fragmentação e justaposição) que seja ao mesmo tempo o mais aberta e concentrada possível. Associações psicológicas livres. Fiz uma vez uma lista de trabalhos que já imaginava colocar na revista. Surgiram outros tantos. Portanto coloco de novo aqui a lista e peço para que as pessoas nelas incluídas respondam dizendo se topam ou não apresentar tais trabalhos (no meio da lista rolam frases de autores-pessoas sobre o tema, que proponham outras!). Mapa que produz uma ilha imaginária misturando rio de janeiro fortaleza salvador (letícia parente). "agora podia considerar-se em casa em qualquer lugar. e foi a partir daí que não se sentiu mais em casa em lugar nenhum." (sándor márai) filme do ícaro (LOGOPÉIA): http://www.youtube.com/watch?v=1NqOS_1ZBTg&feature=related Texto Francine sobre o filme do ícaro. "los verdaderos viajantes son los que parten por partir" (Baudelaire). Fotos érica (das séries “voltando a são paulo” e “- qual a semelhança entre uma cidade e o deserto?”, ou outras): http://www.flickr.com/photos/cadernodeviagens/page3/ cartas de Erica para… (como era o nome mesmo dele?) Texto SKYPE: www.lucasparente.blogspot.com (inacabado, sempre inacabado). Fotos skype que pensei em encomendar a Diana, juntar com as do icaro, com as da letícia, com as de todos que tiverem fotografias-skype. Texto Si sobre o carioca visto desde fora (Notas, 6 de fevereiro de 2009, ou algo do tipo): http://magraderuim.blogspot.com/2009_02_01_archive.html Colagens de fotografias, mapas, postais, etc, do ícaro. "se você quer ver a sua vida passar na sua frente como um filme, basta viajar" (andy warhol). “o ócio é o grande produtor de dispersão” (montaigne). Ulisses, robinson crusoé, joseph Conrad, coetzee… Imagens da chega do homem à lua (algo se alterou – tudo o que sobe desce). Texto dos irmãos pretty sobre o retorno dos road movies (?) A idéia é fazer uma grande colagem com textos, fotografias, filmes, etc e tal. Com certeza falta alguma coisa. Não tive muito tempo para remexer em tudo o que surgiu. Acabo de voltar à terra. Como o espaço não é infinito, alguns podem acabar ficando de fora, o que é mais do que normal. Mandem a quantidade de trabalhos que quiserem. 6 – AFAZERES Queria dizer que, com relação aos “convidados”, acho que a melhor forma é enviareste texto para eles, mas de maneira separada, ou seja, ícaro envia pros seus convidados, francine pros seus, júlia pros seus, eu pra Flávia e pro Uirá, por exemplo, etc. Não vejo problema em chamar geral, já que no final ficam os melhores trabalhos independente desde onde vieram (é claro que não vale chamar o Rui Gardnier, por exemplo, ou o Jabor). E esse último item (de numero 6) não deve ser enviado, ok? Gostaria de pedir pra o ícaro e pra francine fazerem um projeto-introdução da revista como um todo, enquanto eu edito este texto (diminuindo um pouco) para apresenta-lo a nossos editores. Ok? Um grande beijo desde la calle encomienda numero 21 (barrio de lavapiés, madrid).

Arquivo