Pesquisar este blog

[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





para chegar até lá, siga a seta vermelha:

ctrl + c -> aeromancia.blogspot.com -> ctrl + v -> barra de endereços -> enter



érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Os Amantes da Ponte Neuf


"Desenhei sobre a placa preparada com breu
para banho em ácido (água tinta) e isolei
com verniz o restante da área. Posteriormente
radicalizei desenhando com lápis pastel oleoso
sobre a placa preparada com breu, levada dire-
tamente ao ácido, obtendo um resultado direto,
sem artifícios para se assemelharem aos parâ-
metros dos desenhos com creiom."

DANS LA VILLE BLANCHE

- S'il vous plait... papier ?

- Papier ?

Ecrire.

- Grand ? Petit ?

- Grand.

Stylo. 

- Ah, un crayon.

- Merci. La poste ?

- Là, en bas.

- En bas ?

Oui, en bas.

Merci.

. . .

Je remonte à la surface. Stop. Rosa est partie je ne sais où. Stop. Le seul pays que j'aime vraiment c’est la mer. Stop. Je l'aime. Stop. Je t'aime. Stop. Je t'embrasse tendrement. Stop. Le corps d'une femme c'est trop grand. Stop. Ce sera donc la guerre entre nous. Stop. La mÈmoire et l'oubli ont la mÍme origine. Stop. Les femmes sont trop belles. Stop. Les trains ne partent pas à l'heure. Stop. Je n'en sais pas plus qu'avant. Stop.

OPICINUS
While some earlier scholars would have labelled these maps as the epitome of medieval European cartography, due to the very ecclesiastical form and content, they were, indeed, an exception in this period's mapmaking. Opicinus de Canistris (1296 ~ c1350), a Pavian who worked at the papal court in Avignon, drew a series of imaginative maps, while acknowledging in a text written between 1334 and 1338 his use of nautical charts. Canistris's maps are fanciful anthropomorphic perspectives on geography, cartography and religion, a style that was to become a popular form of social and political commentary in the 17th - 19th centuries.  In these examples of Canistris's maps the physical geography is adapted somewhat to animal and human forms - the image of a king conforms to the shape/content of Europe, with the image of his queen forming North Africa. There is no further attempt to personify any other landmasses; however, the Bay of Biscay adjacent to France takes on the form of a lion with his mouth agape; and the Eastern Mediterranean is shown as an old bearded man holding a dove, a book and a scepter. There is no real attempt to depict the landmasses with any degree of current geographical knowledge, the British Isles, Ireland, and Scandinavia are drawn crudely even by the standards of the day. However, the purpose of these maps were obviously not geographical or navigational, but purely a fascinating, eye-catching medium for conveying a set of ideas.
Otto Georg von Simson:
The way in which the mediaeval imagination wrought the symbols of its visions appears, more clearly perhaps than in the conventional imagery of Christian iconography, in the strange designs by which an Avignon cleric, Opicinus de Canistris, sought to represent the Christian cosmos. While he represents the universal Church as edificium templi Dei, he blends the female allegory of Ecclesia into a geometrical pattern that looks much like the ground plan of a church and helps one understand how the mediaeval mind envisaged the symbolic relation between the temple and the shape of man. Opicinus was an eccentric; his drawings can hardly claim to be works of art. They are nevertheless characteristic of the mode by which the Middle Ages created its symbols.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

equitativa

Se por algum agradável acaso da física das cordas os portais do tempo sorrissem para mim, agora mesmo eu bem poderia ter conhecido minha mãe;

gerando minha irmã primogênita, 23 anos, casada, militante de esquerda, governo Médici,
Equitativa, 1973.

Pegaríamos o defeituoso, mas não dessa vez, elevador lento, falaríamos do bom, quente e úmido tempo que é o dezembro carioca, da correria consumista natalina, ainda que o Natal celebre reencontros, não tão desejáveis, por vezes... e com essa deixa, comentaríamos sobre a sua ida ao mercado para comprar cheiro verde, camarão e moranga: "a ceia dos membros 'desaparecidos' do Partidão". Travada a empatia inerente e, de tão parecidas, é certo que nos questionariam "Irmãs?" ao que contestaríamos, simultaneamente, "Não. Mas quase lá." Ela, tão tímida; e eu (como de costume), acirrando os ânimos da felinada adotada pelo condomínio. E aí, o que é muito óbvio, diria-lhe que essa coisa de casamento não está com nada e que um filho basta para experimentar os prazeres da maternidade. Então ela não esperaria dez anos para me ver nascer e decidir virar artista. E também não seria minha mãe, claro. Seria a grande Célia Ribeiro e, por conseguinte, a ordem mundial se converteria num matriarcado. Sim, matriarcado, meu caro, pois ao abrir mão de mim, Célia Ribeiro pegaria o mundo para criar. Por minha vez, eu ficaria presa no tempo, desmaterializando-me, transformando-me nas curvas dos portais de Cosmos. E, sim, agradavelmente eu não estaria aqui, no derradeiro round de 2009, urgindo e fumando prá lá e prá cá, envenenando-me com fast-food (e muito, muito culpada por isso - e, veja bem, o problema é só e somente a culpa), aborrecendo-me com as fotos DESTAQUE DO MÊS ou com as placas RIO SEM FUMO. Não teria mais gengivite, seria a gengivite; o gás carbonico-sônico de Clifford Brown ou a poeira de Benfica; o odor das axilas suadas pelos ônibus dos trópicos ou a lasca daquela árvore amazônica de onde extraem a essência do Chanel N° 5. Tragável. Intragável. Gitâ ou o que for dito por aí. Mas passaria, é certo, por todos os pulmões e guardaria, finalmente, o mundo em mim e nele seria guardada por Célia Ribeiro, a grande Shiva da vez.
Qualquer coisa que você respire.
Ana Cristina

5.

Quando entre nós só havia 

uma carta certa 

a correspondência 

completa 

o trem os trilhos 

a janela aberta 

uma certa paisagem 

sem pedras ou 

sobressaltos 

meu salto alto 

em equilíbrio 

o copo d’água  

a espera do café

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

“Errar es un sumergimiento en los

olores y los sabores, en las sensaciones

de la ciudad. El cuerpo que yerra

‘conoce’ en/con su desplazamiento.”

Néstor Perlongher

sábado, 19 de dezembro de 2009

tenho uma fábrica de desespero debaixo da língua.por isso falo tão pouco.

8.
tenho flores a sair da porta dos armários e nunca tive um armário na minha vida.isto,claro é muito estranho.
o normal seria eu ter um armário e não ter flores a sair dele.mas a verdade é que é tudo ao contrário.
tenho flores a sair da porta de um armário que nunca tive.
46.
uma vez li um livro que tinha um título que ainda hoje me incomoda.o título era;a minha necessidade de consolo é
impossível de satisfazer.era este o título.quem escreveu isto suicidou-se.a minha necessidade de consolo é impossível de satisfazer.a tua necessidade de consolo é impossível de satisfazer.




O HOMEM OU É TONTO OU É MULHER /gonçalo m.tavares

um anel indestrutivel de afecto filial com o desconhecido.eu
entregue a quem a cumulara nos seu braços
e,subitamente ,deu-se um facto estranho- o texto tornara-se
absolutamente cegante
ouve-se o estalo seco de um intenso flash
llansol pg 26 ardente texto joshua
olhando apenas a objectiva do texto joshua,não reparando sequer que
estava nua- ou dada:desce do movimento ,no ancoradouro do rio,
e penetra no claustro tinha um quarto cheio de luz...
natal de 88.

Nem te contei, mas espalho logo a notícia: houve um surto Llansol aqui entre nós, todos quatro lábios astrais! Agora te conto, primeiro fui eu, que porque comecei a falar aqui em casa, lendo você, revirando sites, Llansol pra lá, Llansol pra cá, enfim ganhei, num agrado de amor, o achado desses de sebo, lindo lindo, rosa e com encadernação a ponto de desfazer-se, Um falcão no punho. E passei a ler esse fim de semana. Que escrita... e como ama Pessoa, né? Espirais entre a literatura, o diário íntimo e o mar, brotaram na minha cabeça nesses primeiros dias-páginas percorridos na Llansol d'um falcão no punho. E já bisbilhotei, o livro termina por volta do ano do meu nascimento, 1983. Enfim, tbm eu, descubro Llansol, via Ez... Mas então, daí o Luc, (adoro chamar o Luc de Luc, porque me lembra Jean-Luc Godard!!) me contou via gtalk ou via e-mail, já não sei, que comprou Llansol num sebo em Portugal, e, na mesma semana, num telefonema Ícaro é quem conta que comprou Llansol, esqueci os títulos, mas o do ícaro é edição nova, acho que portuguesa...

deixo um beijo em você, de boas vindas. e muito feliz de ter aberto um lugar de procura com vocês todos. não por mim, pelo texto que é o maior especial. guarde esse livro com muito amor, ele abre pra você seu nascimento. 83. acho que você tem a primeira edição do falcão no punho. você escaneia a capa pra eu ver? estou por aqui querida. depois te escrevo com mais calma. sobre o resto do email, tá?

justifico o email grande llansol pq fui tomada de uma felicidade absurda

qd me contou que todos estavam lendo llansol

era como se conversássemos em silêncio,

tão bonito

teu trajeto-Llansol, trajetos teus-meus e de todos nós - o tal interesse que os (des)métodos-percursos nossos e de cada um nos suscita, talvez porque nos tornamos OUTROs-EUs observando OUTROs-EUs navegando pelas águas tranquilas-turbulentas\ estranha-familiares que nos levam-afastam para-de nossos objetos-paixão. águas que nos ligam a nós mesmos fora de nós...

Meus scaner está chegando do concerto hoje em casa, logo logo te mando a capa da Llansol rosa que tenho aqui, nesse fim de semana dei uma restaurada na edição, estava um fiasco, acho que agora resiste por mais um pouco.

já descobri uma passagem irresistivelmente comovente no livro, quando o scanner chegar eu copio pra vc tbm. É sobre Infausta, lendo, e procurando rendas, abrindo portas num sonho. É lindo demais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

querido jodô

mi querido patze paco pancho ale jodorowsky,
mis pies en granada ahora - las nubes - frío y húmedo como nunca imaginaría. el sitio más increíble.
ayer llegando de bus, los campos de olivos y la montaña mientras la puesta del sol... me quedé loco - un pequeño viaje por portugal y el sur de españa - pues ya sabía que la última parada sería LA parada.
entonces. quería saber si tienes algún contacto por aquí, o alguna recomendación viajera. estoy en la casa de una amiga brasileña, pero cualquier pista tuya sería genial.
y esto. compañero. espero que nos veamos pronto.
un abrazo,
lucas
P.S.: la verdad es que deliraba de fiebre en el bus.
y ahora pienso: ¿adonde estás tú?, pinche cabrón.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Os últimos instantes de Dylan Thomas"

Peço um copo. Não há nada no copo. Encho o copo. Não há nada no copo. Para onde foge a poesia quando falha a confiança? Tremer diante das baionetas me levou ao humilhante detalhe: suar frio quando se apressa o cadafalso. Por favor, mais um, mas não há mais o que encher. A máscara taciturna não suportou vasculhar a alcova de Rimbaud. Um poeta não precisa ser um homem. Mas um homem que deixa de ser homem jamais poderá se manter poeta. Um poeta precisa das pernas e Rimbaud é prova disso, que tanta falta sentiu de uma, quando precisava mais do que nunca seguir andando. Resta-nos cessar toda a música, inaugurar sem pena o canto funesto. Mas sobra este cigarro pendurado como um fígado cinzento entre os lábios. Lá fora vejo pessoas carregando coisas. Não, acontece o contrário. São carros, motos, a ponta de uma faca. Mas apenas dentro de mim, enquanto pendem os cachos de minha tristeza premonitória diante da testa quente, varam as ruas caminhões me perfurando a nuca. Muito mal vai a situação na rádio, dizem que minha voz envelheceu e não condiz com meus “trejeitos ciganos”. As coisas do coração, os desvios da paz truculenta, tudo paralisado, diante do iceberg noturno. Acabou-se a voz. Mais um, por obséquio. Quando eu era um rapaz... Já bata disso! Sinto que nunca me senti tão jovem, assim desnorteado – será isso uma corcunda ou a mochila nas costas? Resta fazer jus ao colete milimétrico, à paz convulsiva que explode feito bomba, deixar cair outro cacho e pedir mais um copo. A cor dentro do copo, esta que busquei. Frente à face efetua-se a brincadeira perigosa, a torre de vidro que em breve não suportará o peso criado para enobrecer o talento. Resta embaralhar palavras como aqueles macaquinhos de caixa que retiram papéis da sorte. Lembro-me bem dos olhos dos animais de circo. Um copo se quebra pelo chão e de repente reparo que olham para mim, olham para mim sempre do mesmo jeito: “Por favor, retirem esse homem daqui”. Mas olhar é senha para o precipício, os ossos precisam semear a dança da morte. Sempre a minha maior habilidade: revelar a tristeza por trás do que faz rir. Mais um, traga dois de uma vez – derrubarei um terceiro. Estamos aqui, afinal, para isso: derrubar e trazer mais. Sou um dos que trazem de muito longe, preciso do cigarro preso como faísca entre os lábios. Um senhor bondoso se inclina: lembra meu pai. “Filho”, ele diz, “não acha que já foi demais?” Alguém suspende minha cabeça e só penso no orgulho da barreira a ser rompida. De qualquer modo, falta-me estômago, é preciso dar um basta nisso, companheiro traga mais uma. Sei que agora ela fala sozinha diante de um muro, com as roupas íntimas à mostra. E quem escutará seus gemidos inconstantes quando minha voz se apagar? Criei os embusteiros, os bêbados desequilibrados com poéticas justificativas. Tenho uma convicção sem culpa. Trouxe a morte mais uma vez para o colo, derreti os candelabros com meu sopro vulcânico. Verdade seja dita: temo que fui traído. E não paro de pensar no bigode, na boca de tartaruga de Igor Stravinsky. Sim, mas é claro, pode me trazer qualquer coisa. Olham-me como um fantasma: é preciso arregalar os olhos para ficar na história. Finalmente lembro que falta pouco para atingir o ápice. Os amigos, aqueles malditos materialistas de Oxford. É da minha alma que se alimentam. E eu, de que me alimento? Peça mais uma, faça o favor. Novamente o insistente senhor se aproxima: “Está querendo se matar, meu filho?” Explico a ele, reitero que sou de uma força vulcânica, que fui traído, sim, mas não se humilha jamais aquele que é humilde por natureza. Agora estou diante da natureza, não há quem possa me questionar. Dou beijos como dou murros, eis a frase verdadeira. As mulheres não entendem isso, as mulheres, as frases que amamos. Realmente, dê-me a dose de qualquer coisa, baterei o recorde, criarei meus filhos. Sei que preferem os delicados de muitas facetas, sei que sou o que não seria “para a família”. Com mais um drinque há gente falando meu nome, dizendo sobre poemas que não escrevi. Mulheres se derretem, estudam meu teatro, me defendem injustamente.

Talvez não seja assim tão mau. Sim, é terrível. Vacilo em pequenos períodos de umidade casta, mal posso olhar a morte nos olhos, ela não me deixa, aquela mulher gorda ali no canto, com feições de Gales, vermelha, aqueles peitos enormes, unidos e saltando para fora como um gigantesco sol, dois, aos quais não tenho mais direito, estou distante como um verme, distante e indissociável, eu o que sabe, principalmente agora, cheio de uísque, olho para os pobres coitados – estão tão contentes, derrotados – que sabem menos ainda que eu, pobres corações dentro desse vácuo entre os homens, e de repente dou por mim: estou no bar, esse é o meu purgatório, devo cumpri-lo, trata-se da passagem para o outro lado, mas num minuto estou aos gritos, em pé sobre a mesa, tentando arcar, pobre de mim, com o mito de William Shakespeare, mas não se deve colocar o demônio no colo, disso eu não sabia até chegar aqui.

Um sujeito gordo com gravata borboleta se aproxima de mim. Sinto raiva, ele se parece com o que me tornei. Sem nenhum escrúpulo ele chega junto, se apresenta como O MAITRE, quer levar dali meus copos, meus troféus magníficos, a essa altura, meu único apego. Obviamente não deixo que ele o faça. Solto em cima dele os meus cachorros, o retrato do cachorro quando velho, puxo o gordo pelo colarinho ensebado, cuspo na cara dele e digo: “Meu amigo, você é capaz de contar quantos copos eu tenho aqui na mesa?”. Aparentemente ele se retrai, nunca viu nada parecido. Olha para mim com os olhos estalados, com uma calma inadequada, imprópria para o momento. “Meu senhor, Senhor Thomas, vejo aqui 15 copos, o senhor já quebrou três, o senhor precisa ir mais leve, se acalmar um pouco, tome um copo d’água, vamos afrouxar esse colarinho, por favor, o senhor é um escritor reconhecido e temos muita satisfação em tê-lo aqui no bar, mas, por Deus, controle-se”.

Aquilo me atingiu feito uma pedrada. Aquele homem, não de todo deselegante, mas muito suado, pedia que eu afrouxasse o meu colarinho e, vejam bem, ele mesmo o fez por mim. Me tratou como criança quando contou os copos – quantos eram? –, 15 copos, então me fez de filho quando disse “tome um copo d’água, controle-se por favor” e, finalmente, me tratou como poeta dizendo que eu era reconhecido e deveria por isso me cuidar. Vejam bem, um verdadeiro nome da cultura ocidental, ele chegou a dizer, e até mesmo convocou Deus, aquele asno, um assunto no qual eu já nem pensava mais... É fato, penso cada vez menos. Pensar é o que faz sofrer e, ao mesmo tempo, impede que eu me suicide. Suando demais... Um papel, preciso imediatamente de um papel! Dê-me aqui um guardanapo!

Oh pure worm of us, do not delight

With the fear of our souls, please don’t fight,

Just give us back, in fragments, the gold

That once has been the ground for us to hoe...

“Senhor Thomas, Senhor Thomas, o senhor está bem, Senhor Thomas?” Gritos. Telefonemas. Jornais. Ambulâncias. Autópsia. Hemorragia alcoólica. Eternidade, enfim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009





janela da casa do fred

sábado, 5 de dezembro de 2009













aeroporto de lisboa,novembro de 2009

desenho do site

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

...[
—No se está nunca a la vez en todo un país, qué sabe usted, ni siquiera en toda una ciudad,
ni en todo un invierno benigno, no, por más que uno se empeñe sólo se está donde se está en cada
momento.
—Bueno, precisamente, pero donde yo estaba la ciudad termina en una plaza inmensa
rodeada de escaleras que parece que no conduzcan a ninguna parte.
—No, no, señor, no quiero saberlo.
—Toda la ciudad está enjalbegada, figúrese usted, nieve en pleno verano. Está en el centro
de una península bañada por el mar.
—Un mar azul, ya lo sé. Es azul ¿no es cierto?
—¡Oh sí, azul!
—Perdone usted, señor, pero la gente que habla del azul del mar me da ganas de vomitar.
—Pero si es así. Desde el parque zoológico se le ve rodeando enteramente la ciudad. Y es
azul para quien lo mire, no lo puedo evitar.
—No, sin ese cariño de que hablaba, a mí me parecería negro. Por otra parte, no es que
quiera contradecirle, pero tengo tantos deseos de cambiar de vida, de salir de esto, que no puedo
pensar en viajes y en ver cosas nuevas. Ya puede usted ver todas las ciudades que quiera, que con
eso no adelantará nada y luego resultará, cuando se canse, que está usted lo mismo que antes.
—Es que estamos hablando de cosas distintas. Yo no me refiero a cambios que puedan
modificar la existencia de uno, sino a esos que nos dan gusto mientras los estamos viviendo. Viajar
distrae mucho. Los griegos, los fenicios, todo el mundo viaja, y siempre ha sido así.
—Sí, verdaderamente hablamos de cosas diferentes; no son cambios de esa suerte los que
yo deseo, no se trata de viajar, ni de ver ciudades a la orilla del mar. Lo que yo quiero es
pertenecerme a mí misma, poseer algo, cualquier cosa, aunque sean objetos de poca importancia,
pero míos, y un lugar, una sola habitación, si quiere, para mí sola. A veces, fíjese, me pongo a
soñar en un hornillo de gas.
—Con eso le ocurrirá lo mismo que viajando: no podrá detenerse. Después del hornillo
deseará usted una nevera eléctrica y después cualquier otra cosa. Será igual que viajar e ir de una
ciudad a otra. No podrá detenerse.
—Pero ¿qué inconveniente ve usted en que no me conforme con la nevera?
—No, ninguno, desde luego. Es que pienso en mí y me parece que a mí semejante idea me
fatigaría más que viajar todo el tiempo e ir de una ciudad a otra como hago ahora.
—Mire usted, yo he nacido y me he criado como todo el mundo, y miro a mi alrededor,
observo, y no veo motivo para quedarme así. Debo adquirir un poco de importancia como sea. Y si
ya empiezo por decirme que me cansaré de tener una nevera eléctrica cuando ni siquiera tengo un
hornillo de gas... Además ¿cómo lo voy a saber? Claro que si usted lo dice será porque ha pensado
en ello, tal vez ha tenido una nevera y se ha cansado de ella.
—No, no sólo no la he tenido, sino que ni siquiera he tenido la más pequeña posibilidad de
tenerla. Es solamente una impresión. Además si le hablo de una nevera es porque parece un objeto
pesado e intransportable para un viajero. Seguramente no hubiese dicho lo mismo a propósito de
otra cosa cualquiera. Por otra parte, comprendo muy bien que no pueda usted viajar hasta que
haya conseguido, por ejemplo, su hornillo de gas. Probablemente es una tontería por mi parte el
hecho de acobardarme ante la sola idea de una nevera.
—Efectivamente es curioso.
—Una sola vez en toda mi vida deseé dejar de vivir. Tenía hambre, y como no tenía un
céntimo, no tenía más remedio que ir a trabajar para poder comer al mediodía. ¡Como si ese no
fuera el destino de todo el mundo, y el mío, en particular! Pero como si no hubiese estado
acostumbrado, ese día no tenía ganas de vivir porque me parecía que no había causa para que las
cosas siguieran siendo para mí como eran para todos. Necesité un día entero para volver a
hacerme a la idea; naturalmente, fui al mercado con mi maleta y comí. Luego volvió todo a ser
como antes, con la diferencia, sin embargo, de que a partir de ese día hacer proyectos para el
futuro, aunque sólo se trate de si he de poseer o no una nevera, me fatiga mucho más que antes.
—Me imaginaba algo así.
—Además, cuando pienso en mí mismo, es en términos de seguir o no seguir existiendo, lo
que explica que una nevera más o menos me importe menos que a usted.
—Y, a ese país que le gustó tanto, ¿fue antes o después de ese día?
—Después. Pero cuando pienso en él me alegra constatar que hubiera sido una pena que
un hombre más, yo, por ejemplo, hubiese pasado por este mundo sin conocerlo. No es que crea,
compréndame, estar mejor dotado que otro cualquiera para apreciarlo, no es eso, pero me parece
que más vale ver un país que dejarlo de ver.
—Aunque no puedo ponerme en su lugar, comprendo lo que quiere decir y me parece muy
bien dicho. Quiere usted decir que puesto que estamos en el mundo, mejor es ver el mayor número
de cosas posible, ¿no es así? Y que de este modo el tiempo pasa más de prisa y más
agradablemente, ¿no?
—Sí, algo así. A lo mejor, en el fondo no estamos en desacuerdo más que acerca de lo que
hemos decidido hacer uno y otro con nuestro tiempo.
—No, no solamente es eso, puesto que yo no he tenido todavía ocasión de cansarme de
ninguna otra cosa, sino de esperar. Compréndame, no quiero en absoluto decir que sea usted
forzosamente más feliz que yo, no; sólo que aún no siéndolo, puede usted permitirse el lujo de
pensar en remedios para su situación, cambiar de ciudad, por ejemplo, o ponerse a vender otra
cosa, y otros que me callo. Yo, en cambio, no puedo ni empezar a pensar en esas cosas, ni siquiera
en cuestiones de detalle. Aparte de estar viva, nada ha empezado aún para mí. Y si alguna vez,
cuando hace un tiempo muy hermoso, en verano, pongo por caso, me entra el presentimiento de
que algo va a empezar enseguida sin que yo me dé apenas cuenta, tengo miedo, sí, miedo de
abandonarme al bienestar de ese día hermoso y de olvidar aunque sólo sea un momento qué es lo
que quiero, de perderme en el detalle y de olvidar lo esencial. Si me entretengo en los detalles de
mi existencia estoy perdida.
—Pues, ve usted, yo había entendido que sentía cariño por ese chiquillo.
—Me da igual. No quiero saberlo. No quiero empezar a considerar mi situación menos
desagradable y soportarla un poco mejor, porque en ese caso, como le decía, estoy perdida. Tengo
mucho trabajo que hacer y lo hago. Cada día me dan un poco más del que debieran darme y, sin
embargo, lo hago. Y acaban por darme trabajos penosos, pero tampoco digo nada y los hago
también. Porque negarme significaría que esperaba que dentro de lo posible mi situación podía
mejorar, suavizarse, hacerse un poco más soportable, o soportable del todo.
—Resulta verdaderamente raro eso de poder darse algún alivio en la vida, algún respiro, y
renunciar a hacerlo.
—Sí, desde luego, pero yo no me niego a nada, nunca me he negado a hacer nada de lo que
me exigen. No me negué al principio, cuando hubiera sido tan fácil, ni me niego ahora cuando aún
lo sería más, puesto que cada día tengo más trabajo. Desde que tengo uso de razón, no recuerdo
haberme negado nada; he aceptado siempre dócilmente todo, todo absolutamente, con el fin de
que llegue un día en que ya no pueda soportar nada. Quizás le parezca un modo demasiado
ingenuo, pero no he encontrado nada mejor para salir de esto. Porque una acaba por
acostumbrarse, estoy segura; conozco algunas que después de diez años están como el primer día.
Es posible acostumbrarse a todo género de existencias, incluso a esta mía, y he de estar muy alerta
para no acostumbrarme. A veces me angustio, porque aun estando prevenida contra ese peligro de
acostumbrarme, el peligro es tan grande que aún prevenida, podría no poderlo evitar. Pero
volvamos a lo de antes, dígame qué otras novedades se puede encontrar aparte de la nieve, las
cerezas y los edificios en construcción.
—A veces el hotel ha cambiado de dueño y el nuevo es persona franca que charla con los
clientes al revés del antiguo que estaba ya harto de amabilidades y no le dirigía a uno la palabra.
—¿Verdad que debo asombrarme de estar todavía en el mismo sitio? ¿No es verdad que de
otro modo no conseguiré nunca nada?
—Todo el mundo se sorprende de encontrarse cada día en la misma situación. Yo creo que
nos sorprendemos de lo que podemos, que no puede uno decidir que se sorprenderá de unas cosas
sí y de otras no.
—Cada mañana me asombra más el hecho de seguir así y no lo hago adrede. En cuanto me
despierto, me asalta la sorpresa y me pongo a recordar. Yo era una niña como todas las demás;
nada en apariencia me diferenciaba de las otras. Ve usted, en el tiempo de las cerezas nos
dedicábamos todas a robarlas en los huertos. Hasta el último día robé cerezas con ellas, porque fue
en esa época cuando me colocaron. Pero, dígame: ¿qué otras cosas cambian, aparte de lo que ya me
ha dicho, el propietario del hotel y todo eso?
—También yo, como usted, he robado cerezas, y nada en apariencia me diferenciaba
tampoco de los demás, salvo, quizás, que me gustaban ya mucho. Aparte del propietario, en el
hotel hay a veces un aparato de radio nuevo. Eso es muy importante. Un café sin música se
convierte en un café con música. Lo cual significa, naturalmente, que hay en él más gente y que se
queda hasta tarde. Eso reporta noches de buenas ganancias.
—¿Dice usted ganancias?
—Sí.
—¡Oh, a veces creo que si lo hubiéramos sabio...! Vino mi madre y me dijo: "Bueno, se
acabó, ven conmigo, se acabó". Y yo la dejé hacer, sabe igual que las bestias que se llevan al
matadero. ¡Ah, si lo hubiera sabido, si lo hubiera sabido me hubiera defendido, me hubiera
escapado, hubiera suplicado, se lo hubiera pedido tan bien, tan bien...!
—Pero no lo sabíamos.
—El tiempo de las cerezas continuó hasta el fin, como los otros años. Las demás pasaban
debajo de mis ventanas canturreando y yo estaba espiándolas detrás de los cristales y me reñían
por eso.
—Yo las cogí muy tarde.
—Detrás de los cristales, como si fuera un gran criminal. ¿Se da usted cuenta?, como si
tener dieciséis años fuera un crimen... ¿Mucho más tarde dice usted?
—Sí. Lo más tarde posible en la vida de un hombre. Ya ve usted.
—Cuénteme de los cafés con música y llenos de gente, por favor.
—Yo no podría vivir sin ellos, señorita. Y me encantan.
—Me parece que a mí también me gustarían. Me veo en el mostrador, del brazo de mi
marido, escuchando la radio. La gente nos hablará de cosas sin importancia y nosotros
contestaremos, y estaremos a la vez juntos y con los demás. A veces me vienen ganas de entrar en
uno, pero sola, ya sabe usted, una chica de mi condición no puede permitirse esas cosas.
—Es verdad, me olvidaba, a veces alguien se queda mirándole a uno.
—Va veo. ¿Y se acerca?
—Se acerca, sí.
—¿Sin motivo?
—Sin motivo. Y entonces se entabla conversación sobre cualquier tema general.
—¿Y luego? ¿Qué ocurre luego?
—¡Oh, nada! Yo no permanezco nunca más de dos o tres días en la misma ciudad. Los
objetos que vendo no son de gran consumo.
—¡Qué lástima!
]...
M a r g u e r i t e D u r a s - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - E l S q u a r e