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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

domingo, 31 de outubro de 2010








NAYLAND ROCK

Uma menina dança provocantemente, ela não tem mais do que treze ou quatorze anos. É Margate1, 1977. Ela está dançando “Cocaine in my Brain”.
Freddy, um negro chinês, traficante número um da cidade, olha para ela. Ele é o cara mais cool de Margate: ela está a fim dele há semanas e ele está olhando para ela.
Freddy a agarra pela cintura e a leva para fora da boate ao longo da beira da praia chamando-a de ‘putinha’.
Entram no Hotel Nayland Rock e no quarto e ele toma mais algumas anfetas.
Ele tenta foder com ela. É patético, seu pau é mole e pequeno.
Ela pensa, É só isso que sobrou do Freddy?
Ele dá volta pela cama seminu. A menina olha para o relógio: são três da manhã. Do telefone ao lado da cama ela liga para sua mãe e diz 'Está tudo bem, estou indo para casa'.
Antes de sair, ela pega uns trocados nos bolsos de Freddy, um isqueiro dourado e uns cigarros. Ao fechar a porta, ela pensa, Isso é bom para ele ver o que dá ser um merda na cama.





HADES

Uma menina está dançando "Wishing on a star" numa boate provinciana – ela dança de uma forma muito excitante. Não dá para saber quantos anos ela têm, dezesseis ou dezessete no máximo, mas de acordo com a luz ela chega a parecer dezenove ou vinte.
Um cara bem bonito, em torno de vinte anos, está olhando para ela. Um grupo de mulheres começa a dançar e ele oferece um drink a ela. Eles vão até o bar; ela dá uns goles em seu Pernod com groselha. Ele não tira os olhos dos seus peitos.
De repente começa uma briga: cadeiras, óculos e garrafas voam. As luzes se acendem e a polícia chega causando tumulto no bar.
O cara pega a menina pela mão e a leva para fora do clube pela porta de trás. Já do lado de fora, ela cruza os braços e diz, 'Ai que frio'. Ela está usando um tubinho cintilante, uma calça justa de veludo preto e chinelinhos prateados. Ele coloca sua jaqueta sobre ela.
'Não', ela diz, 'Para aonde vamos agora?'
Eles saem andando por um estacionamento. Ele aponta para uma van Ford vermelha. O nome dele é Pete Smiles e ele tem vinte e três anos. Ele está noivo, mas fascinado pela menina. Ele pergunta a ela: quantos anos você tem? dezesseis? dezessete?
'Quatorze', ela responde.
Ele diz que sabe que está errado. A van tem um colchão atrás e, sem dizer muito mais, ele a empurra para dentro e a fode com força.
Depois, eles seguem para um pesque-e-pague. Ele compra um pacote de batatas fritas para ela e a leva até o final da sua rua. Ela desce da van com o saco de batatas fritas na mão.
Enquanto ele sai com o carro, ela pensa que talvez este tenha sido o melhor sexo de toda a sua vida.

1 Cidade costeira ao sudeste da Inglaterra. 





Tracey Emin 
tradução de thais medeiros









domingo, 24 de outubro de 2010






Sessão Astro-Lábio
28/outubro.
21horas
       
Plano B
R. Francisco Muratori.  2A  
Lapa - RJ



deserto - francine jallageas - rio de janeiro (2009).
logopéia - ícaro lira - rio de janeiro/buenos aires (2009).
hoje - alessandra colasanti - rio de janeiro (2010).
carta número 2 ou medo de voar - lucas parente - barcelona (2009).
anymore - mariana smith - são paulo/fortaleza (2008).

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

: je suis un peu ailleurs maintenant. si tu peux me rappeler un autre jour... c'est mieux.
: ok
ailleurs en berbère sa veut dire la lune

POR QUE EU AMO A FRANÇA, por Leonard Cohen

Ó França, você deu sua língua aos meus filhos, seus amantes e seus cogumelos à minha mulher. Você cantou minhas canções. Você entregou meu tio e minha tia aos Nazistas. Eu conheci o peito de veludo da polícia na Praça da Bastilha. Eu tirei dinheiro dos comunistas. Eu deixei a minha meia-idade na cidade leitosa de Luberon. Eu corri dos cães de guarda numa estrada ao redor de Rousillon. Minha mão treme na terra da França. Eu vim até você com uma asquerosa filosofia de santidade, e você me deu banho e me fez sentar para uma entrevista. Ó França, onde eu fui levado tão a sério, que tive que reconsiderar minha posição. Ó França, qualquer messias chinfrim te agradece por sua própria solidão. Eu quero estar noutro lugar, mas eu estou sempre na França. Seja forte, seja nuclear, minha França. Flerte com todos os lados, e fale, fale, nunca pare de falar sobre como viver sem Deus.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

yes, I do

domingo, 17 de outubro de 2010


no caso de saudade, se formos por acaso substituir, acho melhor "añoranza" que "nostalgia".

sábado, 16 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: tavinho paes <tavinhopaes@gmail.com>
Data: 13 de outubro de 2010 09:50
Assunto: Re: VIRAM NA TV!!!!!!!!! A POESIA QUE SAIU DO TÚMULO!!!!!! vivinha da silva



nÃO DÁ ... TENHO QUE COMPARTILHAR COM TODO MUITO ... FOI MUITO FORTE PRA MIM E PARA O MOMENTO QUE VIVO!!! CARAMBA!!!

2010/10/13 tavinho paes
<tavinhopaes@gmail.com> JOÃO,

acho que vou voltar com tudo depois de estar assistindo a esta hora 03:10h o resgate dos mineiros do Chile...
Primeiro que aquilo  era como sair de uma tumba vivo...
(tô quase chorando ... vi neste sinal de vídeo, sem importância para a reportagem, um sinal de iluminação ... vou sair da crise já!)

saiu o primeiro ... ora, que beleza!
... mas, o segundo deles, Mario Sepulveda Spinace, sai doze minutos depois... 
... sai rindo, fazendo piadas, cheio de alegria... 
... um cara bonitão ... parece até o Tico quando ele estava careca... 
... abraça todo mundo ... vibra ... cheio de energia.

... aí, uma revelação simples que passou desapercebida da reportagem ao vivo da CNN!

... o cara abraçou todo mundo (até a presidenta) ... entre eles estão os avós 
... aí, sem que os repórteres prestassem atenção e fizessem comentários, ele tira do bolso um livrinho de capa negra e entrega para a avó, dizendo que se não fosse aquele livro ele não teria aguentado nem teria estimulado seus colegas a se manterem vivos, enterrados a 290 metros, por 3 meses!!! 
... ela pega o livretinho e diz: no te dices que este libro te salvaria la vida! ... e os dois riram! 
... depois o cara foi pro hospital e se livrou dos jornalistas ocupados com a tragédia!
... nenhum repórter se deu conta do pequeno ato, mas seu amigo aqui viu aquilo e entrou em extase!
... reconheci aquela capa negra ... o sol que tem e o título grande, visível na TV ... eu já tive aquele livro, nos tempos de universidade, roubado da MURO, hoje Travessa (ele sumiu) ... parecia uma bíblia, mas não era ... era de um livro de ... adivinhe!!!
...poesia!!!

João, aquele livro de capa preta que saiu do bolso empoeirado do mineiro resgatado (deu pra ler o título na segunda vez - replay  que passou) era LA GRUTA DEL SILENCIOdo chileno Vicente Huidobro...
... o Chile lê muita poesia (é obrigatória como materia desde o primário) e não é à-toa que tem 2 nobels de literatura e os dois são poetas - Gabriela Mistral e Pablo Neruda!

aí vai um dos poemas que achei na web, daquele livro



"Arte poética"
Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea,
Y el alma del oyente quede temblando.
Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.
Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso tenemos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.
Por qué cantáis la rosa, ¡oh Poetas!
Hacedla florecer en el poema ;
Sólo para nosotros
Viven todas las cosas bajo el Sol.
El Poeta es un pequeño Dios.




Vicente Huidobro

peruano clandestino

¡Dulzura por dulzura corazona!
¡Dulzura a gajos, eras de vista,
esos abiertos días, cuando monté por árboles caídos!
Así por tu paloma palomita,
por tu oración pasiva,
andando entre tu sombra y el gran tezón corpóreo de tu sombra.

Debajo de ti y yo,
tú y yo, sinceramente,
tu candado ahogándose de llaves,
yo ascendiendo y sudando
y haciendo lo infinito entre tus muslos.
(El hotelero es una bestia,
sus dientes, admirables; yo controlo
el orden pálido de mi alma:
señor, allá distante... paso paso... adiós, señor...)

Mucho pienso en todo esto conmovido, perduroso
y pongo tu paloma a la altura de tu vuelo
y, cojeando de dicha, a veces,
repósome a la sombra de ese árbol arrastrado.

Costilla de mi cosa,
dulzura que tú tapas sonriendo con tu mano;
tu traje negro que se habrá acabado,
amada, amada en masa,
¡qué unido a tu rodilla enferma!

Simple ahora te veo, te comprendo avergonzado
en Letonia, Alemania, Rusia, Bélgica, tu ausente,
tu portátil ausente,
hombre convulso de la mujer temblando entre sus vínculos.

¡Amada en la figura de tu cola irreparable,
amada que yo amara con fósforos floridos,
quand on a la vie et la jeunesse,
c'est déjà tellement!

Cuando ya no haya espacio
entre tu grandeza y mi postrer proyecto,
amada,
volveré a tu media, has de besarme,
bajando por tu media repetida,
tu portatil ausente, dile así...

*

En suma, no poseo para expresar mi vida, sino mi muerte.
Y, después de todo, al cabo de la escalonada naturaleza y del gorrión en bloque, me duermo, mano a mano con mi sombra.
Y, al descender del acto venerable y del otro gemido, me reposo pensando en la marcha impertérrita del tiempo.
¿Por qué la cuerda, entonces, si el aire es tan sencillo? ¿Para qué la cadena, si existe el hierro por sí solo?
César Vallejo, el acento con que amas, el verbo con que escribes, el vientecillo con que oyes, sólo saben de ti por tu garganta.
César Vallejo, póstrate, por eso, con indistinto orgullo, con tálamo de ornamentales áspides y exagonales ecos.
Restitúyete al corpóreo panal, a la beldad; aroma los florecidos corchos, cierra ambas grutas al sañudo antropoide; repara, en fin, tu antipático venado; tente pena.
¡Que no hay cosa más densa que el odio en voz pasiva, ni más mísera ubre que el amor!
¡Que ya no puedo andar, sino en dos harpas!
¡Que ya no me conoces, sino porque te sigo instrumental, prolijamente!
¡Que ya no doy gusanos, sino breves!
¡Que ya te implico tánto, que medio que te afilas!
¡Que ya llevo unas tímidas legumbres y otras bravas!
Pues el afecto que quiébrase de noche en mis bronquios, lo trajeron de día ocultos deanes y, si amanezco pálido, es por mi obra: y, si anochezco rojo, por mi obrero. Ello explica, igualmente, estos cansancios míos y estos despojos, mis famosos tíos. Ello explica, en fin, esta lágrima que brindo por la dicha de los hombres.
¡César Vallejo, parece
mentira que así tarden tus parientes,
sabiendo que ando cautivo,
sabiendo que yaces libre!
¡Vistosa y perra suerte!
¡César Vallejo, te odio con ternura!


cesar vallejo

segunda-feira, 11 de outubro de 2010



Joseph Beuys (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys completing the Brain of Europe drawing for his Hearth installation at the Royal Feldman Gallery, New York 1975 (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys at Sandycove, where James Joyce lived before leaving Ireland for Europe (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys investigating the plant life of Ireland, November 1974 (photographed by Caroline Tisdall).

Performing Celtic (Kinloch Rannoch) Scottish Symphony, 1970 (photographed by Richard Demarco).

Beuys at the Giant’s Causeway, Antrim, Northern Ireland, c.1970 (photographed by Caroline Tisdall).

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

o porquê das máscaras

Quem vêoutem cara não temnemvê coração.

terça-feira, 5 de outubro de 2010


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

viajar, perder países

Há alguns anos começaram a aparecer uns grafites misteriosos nos muros da cidade nova de fez, no Marrocos. Descobriu-se que quem os desenhava era um vagabundo, um camponês emigrado que não havia se integrado à vida urbana e que, para orientar-se, rabiscava itinerários de seu próprio mapa secreto, sobrepondo-os à topografia da cidade moderna, que lhe era estranha e hostil.
     minha ideia, ao iniciar este livro contra a vida estranha e hostil, é trabalhar de forma parecida à do vagabundo de fez, ou seja, tentar me orientar no labirinto do suicídio traçando o itinerário de meu próprio mapa secreto e literário, e esperar que este coincida com o que tanto atraiu meu personagem favorito, aquele romano de quem Savino, em Melancolia Hermética,  nos diz que, grosso modo, viajava em princípio na mais completa  nostalgia, mais tarde foi invadido por uma tristeza debochada, depois buscou a serenidade helênica e, finalmente - "Tentem, se puderem, deter um homem que viaja com seu suicídio pendurado na lapela" , dizia Rigaut -, deu-se uma morte digna, e o fez de maneira ousada, como protesto por tanta estupidez e na plenitude de uma paixão, pois não desejava diluir-se na obscuridade com o passar dos anos.
       "viajo para conhecer minha geografia", escreveu um louco, no começo do século, nos muros de um manicômio françês. E isso me leva a pensar em pessoa ("viajar, perder países") e a parafraseá-lo:
Viajar, perder suicídios; perdê-los todos. Viajar até que se esgotem no livro as nobres opções de morte que existem. E então, quando tudo estiver termindao, deixar que o leitor proceda de forma oposta e simétrica à do vagabundo de Fez e, com certa loucura cartografica atue como Opicinus, um sacerdote italiano do início do século XIV, cuja obsessão era interpretar o significado dos mapas, projetar seu próprio mundo interior sobre eles - não fazia mais que desenhar a forma do litoral mediterrâneo na extensão e na largura, sobrepondo às vezes o desenho do memso mapa orietado de outra maneira, e nesses traçados geográficos desenhava personagens de sua vida e escrevia suas opiniões sobre qualquer tema -, ou seja, deixar que o leitor projete seu próprio mundo interior sobre o mapa secreto e literário deste itinerário moral que aqui mesmo já nasce suicidado.




Suicídios exemplares.
Enrique Vila-Matas