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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

terça-feira, 16 de novembro de 2010

LA VIDA SIGUE,
en líneas distintas.
(ojalá no sean paralelas)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010




. 







Oi I.

.... esas cosas pasan. Sigo en la Patagonia ,, no es tan al sur en realidad , estoy en Valdivia una ciudad muy bonita. Estoy bien, vivo en una casa con vista al río , hago clases a niños , trabajo en un museo de historia natural y cada cierto tiempo voy a Stgo. a tomar un poco de ciudad.
Quizás en el verano voy a Rio , quiero ver a R. y tomar un poco de sol.

Te mando algunas fotos del lugar donde vivo , mandame tu también alguna foto para no olvidar Rio , estas todavía allí???

Abrazo, S.

AU MOCASSIN LE VERBE

Tu me suicides, si docilement.
Je te mourrai pourtant un jour.
Je connaîtrons cette femme idéale
et lentement je neigerai sur sa bouche.
Et je pleuvrai sans doute même si je fais tard,
 même si je fais beau temps.
Nous aimez si peu nos yeux
et s'écroulerai cette larme sans
raison bien entendu et sans tristesse.
Sans.


AU MOCASSIM O VERBO

Me suicidas, tão docilmente.
Te morrerei, contudo, um dia.
Eu conheceremos a mulher ideal
e, lentamente, nevarei em sua boca.
E choverei, sem dúvida, mesmo que tarde,
mesmo que eu faça bom tempo.
Nós ameis tão pouco os olhos
e verterei uma lágrima sem
razão, é claro, e sem tristeza.
Sem.




Robert Desnos (1900-1945)
Tradução: Jorge Lúcio de Campos
http://www.revistazunai.com/traducoes/robert_desnos1.htm 

domingo, 31 de outubro de 2010








NAYLAND ROCK

Uma menina dança provocantemente, ela não tem mais do que treze ou quatorze anos. É Margate1, 1977. Ela está dançando “Cocaine in my Brain”.
Freddy, um negro chinês, traficante número um da cidade, olha para ela. Ele é o cara mais cool de Margate: ela está a fim dele há semanas e ele está olhando para ela.
Freddy a agarra pela cintura e a leva para fora da boate ao longo da beira da praia chamando-a de ‘putinha’.
Entram no Hotel Nayland Rock e no quarto e ele toma mais algumas anfetas.
Ele tenta foder com ela. É patético, seu pau é mole e pequeno.
Ela pensa, É só isso que sobrou do Freddy?
Ele dá volta pela cama seminu. A menina olha para o relógio: são três da manhã. Do telefone ao lado da cama ela liga para sua mãe e diz 'Está tudo bem, estou indo para casa'.
Antes de sair, ela pega uns trocados nos bolsos de Freddy, um isqueiro dourado e uns cigarros. Ao fechar a porta, ela pensa, Isso é bom para ele ver o que dá ser um merda na cama.





HADES

Uma menina está dançando "Wishing on a star" numa boate provinciana – ela dança de uma forma muito excitante. Não dá para saber quantos anos ela têm, dezesseis ou dezessete no máximo, mas de acordo com a luz ela chega a parecer dezenove ou vinte.
Um cara bem bonito, em torno de vinte anos, está olhando para ela. Um grupo de mulheres começa a dançar e ele oferece um drink a ela. Eles vão até o bar; ela dá uns goles em seu Pernod com groselha. Ele não tira os olhos dos seus peitos.
De repente começa uma briga: cadeiras, óculos e garrafas voam. As luzes se acendem e a polícia chega causando tumulto no bar.
O cara pega a menina pela mão e a leva para fora do clube pela porta de trás. Já do lado de fora, ela cruza os braços e diz, 'Ai que frio'. Ela está usando um tubinho cintilante, uma calça justa de veludo preto e chinelinhos prateados. Ele coloca sua jaqueta sobre ela.
'Não', ela diz, 'Para aonde vamos agora?'
Eles saem andando por um estacionamento. Ele aponta para uma van Ford vermelha. O nome dele é Pete Smiles e ele tem vinte e três anos. Ele está noivo, mas fascinado pela menina. Ele pergunta a ela: quantos anos você tem? dezesseis? dezessete?
'Quatorze', ela responde.
Ele diz que sabe que está errado. A van tem um colchão atrás e, sem dizer muito mais, ele a empurra para dentro e a fode com força.
Depois, eles seguem para um pesque-e-pague. Ele compra um pacote de batatas fritas para ela e a leva até o final da sua rua. Ela desce da van com o saco de batatas fritas na mão.
Enquanto ele sai com o carro, ela pensa que talvez este tenha sido o melhor sexo de toda a sua vida.

1 Cidade costeira ao sudeste da Inglaterra. 





Tracey Emin 
tradução de thais medeiros









domingo, 24 de outubro de 2010






Sessão Astro-Lábio
28/outubro.
21horas
       
Plano B
R. Francisco Muratori.  2A  
Lapa - RJ



deserto - francine jallageas - rio de janeiro (2009).
logopéia - ícaro lira - rio de janeiro/buenos aires (2009).
hoje - alessandra colasanti - rio de janeiro (2010).
carta número 2 ou medo de voar - lucas parente - barcelona (2009).
anymore - mariana smith - são paulo/fortaleza (2008).

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

: je suis un peu ailleurs maintenant. si tu peux me rappeler un autre jour... c'est mieux.
: ok
ailleurs en berbère sa veut dire la lune

POR QUE EU AMO A FRANÇA, por Leonard Cohen

Ó França, você deu sua língua aos meus filhos, seus amantes e seus cogumelos à minha mulher. Você cantou minhas canções. Você entregou meu tio e minha tia aos Nazistas. Eu conheci o peito de veludo da polícia na Praça da Bastilha. Eu tirei dinheiro dos comunistas. Eu deixei a minha meia-idade na cidade leitosa de Luberon. Eu corri dos cães de guarda numa estrada ao redor de Rousillon. Minha mão treme na terra da França. Eu vim até você com uma asquerosa filosofia de santidade, e você me deu banho e me fez sentar para uma entrevista. Ó França, onde eu fui levado tão a sério, que tive que reconsiderar minha posição. Ó França, qualquer messias chinfrim te agradece por sua própria solidão. Eu quero estar noutro lugar, mas eu estou sempre na França. Seja forte, seja nuclear, minha França. Flerte com todos os lados, e fale, fale, nunca pare de falar sobre como viver sem Deus.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

yes, I do

domingo, 17 de outubro de 2010


no caso de saudade, se formos por acaso substituir, acho melhor "añoranza" que "nostalgia".

sábado, 16 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: tavinho paes <tavinhopaes@gmail.com>
Data: 13 de outubro de 2010 09:50
Assunto: Re: VIRAM NA TV!!!!!!!!! A POESIA QUE SAIU DO TÚMULO!!!!!! vivinha da silva



nÃO DÁ ... TENHO QUE COMPARTILHAR COM TODO MUITO ... FOI MUITO FORTE PRA MIM E PARA O MOMENTO QUE VIVO!!! CARAMBA!!!

2010/10/13 tavinho paes
<tavinhopaes@gmail.com> JOÃO,

acho que vou voltar com tudo depois de estar assistindo a esta hora 03:10h o resgate dos mineiros do Chile...
Primeiro que aquilo  era como sair de uma tumba vivo...
(tô quase chorando ... vi neste sinal de vídeo, sem importância para a reportagem, um sinal de iluminação ... vou sair da crise já!)

saiu o primeiro ... ora, que beleza!
... mas, o segundo deles, Mario Sepulveda Spinace, sai doze minutos depois... 
... sai rindo, fazendo piadas, cheio de alegria... 
... um cara bonitão ... parece até o Tico quando ele estava careca... 
... abraça todo mundo ... vibra ... cheio de energia.

... aí, uma revelação simples que passou desapercebida da reportagem ao vivo da CNN!

... o cara abraçou todo mundo (até a presidenta) ... entre eles estão os avós 
... aí, sem que os repórteres prestassem atenção e fizessem comentários, ele tira do bolso um livrinho de capa negra e entrega para a avó, dizendo que se não fosse aquele livro ele não teria aguentado nem teria estimulado seus colegas a se manterem vivos, enterrados a 290 metros, por 3 meses!!! 
... ela pega o livretinho e diz: no te dices que este libro te salvaria la vida! ... e os dois riram! 
... depois o cara foi pro hospital e se livrou dos jornalistas ocupados com a tragédia!
... nenhum repórter se deu conta do pequeno ato, mas seu amigo aqui viu aquilo e entrou em extase!
... reconheci aquela capa negra ... o sol que tem e o título grande, visível na TV ... eu já tive aquele livro, nos tempos de universidade, roubado da MURO, hoje Travessa (ele sumiu) ... parecia uma bíblia, mas não era ... era de um livro de ... adivinhe!!!
...poesia!!!

João, aquele livro de capa preta que saiu do bolso empoeirado do mineiro resgatado (deu pra ler o título na segunda vez - replay  que passou) era LA GRUTA DEL SILENCIOdo chileno Vicente Huidobro...
... o Chile lê muita poesia (é obrigatória como materia desde o primário) e não é à-toa que tem 2 nobels de literatura e os dois são poetas - Gabriela Mistral e Pablo Neruda!

aí vai um dos poemas que achei na web, daquele livro



"Arte poética"
Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea,
Y el alma del oyente quede temblando.
Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.
Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso tenemos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.
Por qué cantáis la rosa, ¡oh Poetas!
Hacedla florecer en el poema ;
Sólo para nosotros
Viven todas las cosas bajo el Sol.
El Poeta es un pequeño Dios.




Vicente Huidobro

peruano clandestino

¡Dulzura por dulzura corazona!
¡Dulzura a gajos, eras de vista,
esos abiertos días, cuando monté por árboles caídos!
Así por tu paloma palomita,
por tu oración pasiva,
andando entre tu sombra y el gran tezón corpóreo de tu sombra.

Debajo de ti y yo,
tú y yo, sinceramente,
tu candado ahogándose de llaves,
yo ascendiendo y sudando
y haciendo lo infinito entre tus muslos.
(El hotelero es una bestia,
sus dientes, admirables; yo controlo
el orden pálido de mi alma:
señor, allá distante... paso paso... adiós, señor...)

Mucho pienso en todo esto conmovido, perduroso
y pongo tu paloma a la altura de tu vuelo
y, cojeando de dicha, a veces,
repósome a la sombra de ese árbol arrastrado.

Costilla de mi cosa,
dulzura que tú tapas sonriendo con tu mano;
tu traje negro que se habrá acabado,
amada, amada en masa,
¡qué unido a tu rodilla enferma!

Simple ahora te veo, te comprendo avergonzado
en Letonia, Alemania, Rusia, Bélgica, tu ausente,
tu portátil ausente,
hombre convulso de la mujer temblando entre sus vínculos.

¡Amada en la figura de tu cola irreparable,
amada que yo amara con fósforos floridos,
quand on a la vie et la jeunesse,
c'est déjà tellement!

Cuando ya no haya espacio
entre tu grandeza y mi postrer proyecto,
amada,
volveré a tu media, has de besarme,
bajando por tu media repetida,
tu portatil ausente, dile así...

*

En suma, no poseo para expresar mi vida, sino mi muerte.
Y, después de todo, al cabo de la escalonada naturaleza y del gorrión en bloque, me duermo, mano a mano con mi sombra.
Y, al descender del acto venerable y del otro gemido, me reposo pensando en la marcha impertérrita del tiempo.
¿Por qué la cuerda, entonces, si el aire es tan sencillo? ¿Para qué la cadena, si existe el hierro por sí solo?
César Vallejo, el acento con que amas, el verbo con que escribes, el vientecillo con que oyes, sólo saben de ti por tu garganta.
César Vallejo, póstrate, por eso, con indistinto orgullo, con tálamo de ornamentales áspides y exagonales ecos.
Restitúyete al corpóreo panal, a la beldad; aroma los florecidos corchos, cierra ambas grutas al sañudo antropoide; repara, en fin, tu antipático venado; tente pena.
¡Que no hay cosa más densa que el odio en voz pasiva, ni más mísera ubre que el amor!
¡Que ya no puedo andar, sino en dos harpas!
¡Que ya no me conoces, sino porque te sigo instrumental, prolijamente!
¡Que ya no doy gusanos, sino breves!
¡Que ya te implico tánto, que medio que te afilas!
¡Que ya llevo unas tímidas legumbres y otras bravas!
Pues el afecto que quiébrase de noche en mis bronquios, lo trajeron de día ocultos deanes y, si amanezco pálido, es por mi obra: y, si anochezco rojo, por mi obrero. Ello explica, igualmente, estos cansancios míos y estos despojos, mis famosos tíos. Ello explica, en fin, esta lágrima que brindo por la dicha de los hombres.
¡César Vallejo, parece
mentira que así tarden tus parientes,
sabiendo que ando cautivo,
sabiendo que yaces libre!
¡Vistosa y perra suerte!
¡César Vallejo, te odio con ternura!


cesar vallejo

segunda-feira, 11 de outubro de 2010



Joseph Beuys (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys completing the Brain of Europe drawing for his Hearth installation at the Royal Feldman Gallery, New York 1975 (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys at Sandycove, where James Joyce lived before leaving Ireland for Europe (photographed by Caroline Tisdall).

Beuys investigating the plant life of Ireland, November 1974 (photographed by Caroline Tisdall).

Performing Celtic (Kinloch Rannoch) Scottish Symphony, 1970 (photographed by Richard Demarco).

Beuys at the Giant’s Causeway, Antrim, Northern Ireland, c.1970 (photographed by Caroline Tisdall).

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

o porquê das máscaras

Quem vêoutem cara não temnemvê coração.

terça-feira, 5 de outubro de 2010


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

viajar, perder países

Há alguns anos começaram a aparecer uns grafites misteriosos nos muros da cidade nova de fez, no Marrocos. Descobriu-se que quem os desenhava era um vagabundo, um camponês emigrado que não havia se integrado à vida urbana e que, para orientar-se, rabiscava itinerários de seu próprio mapa secreto, sobrepondo-os à topografia da cidade moderna, que lhe era estranha e hostil.
     minha ideia, ao iniciar este livro contra a vida estranha e hostil, é trabalhar de forma parecida à do vagabundo de fez, ou seja, tentar me orientar no labirinto do suicídio traçando o itinerário de meu próprio mapa secreto e literário, e esperar que este coincida com o que tanto atraiu meu personagem favorito, aquele romano de quem Savino, em Melancolia Hermética,  nos diz que, grosso modo, viajava em princípio na mais completa  nostalgia, mais tarde foi invadido por uma tristeza debochada, depois buscou a serenidade helênica e, finalmente - "Tentem, se puderem, deter um homem que viaja com seu suicídio pendurado na lapela" , dizia Rigaut -, deu-se uma morte digna, e o fez de maneira ousada, como protesto por tanta estupidez e na plenitude de uma paixão, pois não desejava diluir-se na obscuridade com o passar dos anos.
       "viajo para conhecer minha geografia", escreveu um louco, no começo do século, nos muros de um manicômio françês. E isso me leva a pensar em pessoa ("viajar, perder países") e a parafraseá-lo:
Viajar, perder suicídios; perdê-los todos. Viajar até que se esgotem no livro as nobres opções de morte que existem. E então, quando tudo estiver termindao, deixar que o leitor proceda de forma oposta e simétrica à do vagabundo de Fez e, com certa loucura cartografica atue como Opicinus, um sacerdote italiano do início do século XIV, cuja obsessão era interpretar o significado dos mapas, projetar seu próprio mundo interior sobre eles - não fazia mais que desenhar a forma do litoral mediterrâneo na extensão e na largura, sobrepondo às vezes o desenho do memso mapa orietado de outra maneira, e nesses traçados geográficos desenhava personagens de sua vida e escrevia suas opiniões sobre qualquer tema -, ou seja, deixar que o leitor projete seu próprio mundo interior sobre o mapa secreto e literário deste itinerário moral que aqui mesmo já nasce suicidado.




Suicídios exemplares.
Enrique Vila-Matas

domingo, 26 de setembro de 2010







Maria Tereza Horta



Como em Fulgor (1)

Tacteio à minha
volta
e é só fulgor
Tento deslumbrar
o sol que cega
Demoro-me demasiado
no calor
Para a minha sede
Nenhuma água chega



 Segredo (3)


Não contes do meu

vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa 
deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar



Modos de amar 


Modo de amar – I

Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura

usa-me as coxas
devasta-me o umbigo

abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros

e lentamente faz o que te digo:

Modo de amar – II

Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...

a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...

Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...

as pernas longas
firmadas no lençol...

e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...

(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)

Modo de amar – III

É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu

Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu

Modo de amar – IV

Encostada de costas
ao teu peito

em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado

ambos de pé
formando lentos gestos

as sombras brandas
tombadas no soalho

Modo de amar – V

Docemente amor
ainda docemente

o tacto é pouco
e curvo sob os lábios

e se um anel no corpo
é saliente
digamos que é da pedra
em que se rasga

Opala enorme
e morna
tão fremente

dália suposta
sob o calor da carne

lábios cedidos
de pétalas dormentes

Louca ametista
com odores de tarde

Avidamente amor
com desespero e calma

as mãos subindo
pela cintura dada
aos dedos puros
numa aridez de praia
que a curvam loucos até ao chão da sala

Ferozmente amor
com torpidez e raiva

as ancas descendo como cabras
tão estreitas e duras
que desarmam
a tepidez das minhas
que se abrem

E logo os ombros
descaem
e os cabelos

desfalecem as coxas que retomam
das tuas
o pecado
e o vencê-lo
em cada movimento em que se domam

Suavemente amor
agora velozmente

os rins suspensos
os pulsos
e as espáduas

o ventre erecto
enquanto vai crescendo
planta viva entre as minhas nádegas

Modo de amar – Vl

Inclina os ombros
e deixa
que as minhas mãos avancem
na branda madeira

Na densa madeixa do teu ventre

Deixa
que te entreabra as pernas
docemente

Modo de amar – VII

Secreto o nó na curva
do meu espasmo

E o cume mais claro
dos joelhos
que desdobrados jorram dos espelhos

ou dos teus ombros os meus:
flancos
na luz de maio

Modo de amar – VIII

Que macias as pernas
na penumbra

e as ancas
subidas
nos dedos que as desviam

Entreabro devagar
a fenda – o fundo
a febre
dos meus lábios

e a tua língua
Vagarosa:

toma – morde
lambe
essa humidade esguia

Modo de amar – IX

Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas

o ar estagnado
que se estende
no quarto

As pernas que se deitam
ao comprido
sob as pernas

E sobre as pernas vencem o gemido

Flor nascida no vagar do quarto

Modo de amar – X

A praia da memória
a sulcos feita
a partir da cintura:

a boca
os ombros

na tua mansa língua que caminha
a abrir-me devagar
a pouco e pouco

Globo onde a sede
se eterniza
Piscina onde o tempo se desmancha
a anca repousada
que inclinas
as pernas retezadas que levantas

E logo
são os dentes que limitam

mas logo
estão os labios que adormentam
no quente retomar de uma saliva
que me penetra em vácuo
até ao ventre

o vínculo do vento
a vastidão do tempo

o vício dos dedos
no cabelo

E o rigor dos corpos
que já esquece
na mais lenta maneira de vencê-los

Modo de amar – XI
((Teu) Baixo ventre)


Nunca adormece a boca no
teu peito

a minha boca no teu baixo
ventre
a beber devagar o que é
desfeito

Modo de amar – XII
(Os testiculos)


Tenho nas mãos
teus testiculos
e a boca já tão perto

que deles te sinto
o vício
num gosto de vinho aberto

Modo de amar – XIII
(As pedras – As pernas)


São as pedras
meus seios
São as pernas

pele e brandura
no interior dos
lábios

rosa de leite
que sobe devagar
na doce pedra
do muco dos meus lábios

São as pedras
meus seios
São as pernas

Pêssegos nus corpo
descascados

Saliva acesa
que a língua vai cedendo

o gozo em cima...
na pedra dos meus
lábios

Jogo do corpo
a roçar o tempo
que já passado só se de memória,
a mão dolente
como quem masturba entre os joelhos...
uma longa história...

Estrada ocupada
onde se vislumbra
(joelhos desviados na almofada )

assim aberta o fim de que desfruta
o fruto do odor
o fundo todo
do corpo já fechado.

Modo de amar – XIV
(As rosas nos joelhos)


São grinaldas de rosas
à roda
dos joelhos

O âmbar dos teus dentes
nos sentidos

O templo da boca
no côncavo do espelho
onde o meu corpo espia
os teus gemidos

É o gomo depois...
e em seguida a polpa...

o penetrar do dedo...
O punho do punhal

que na carne enterras
docemente
como quem adormenta
o que é fatal

É a urze debaixo
e o fogo que acalenta
o peixe
que desliza no umbigo

piscina funda
na boca mais sedenta bordada a cuspo
na pele do umbigo

E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre

que vai vencendo
as rosas – os escolhos
à roda dos joelhos, docemente.

Modo de amar – XV
(A boca – A rosa)


Entreabre-se a boca
na saliva da rosa

no raso da fenda
na fissura das pernas

Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta

E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas

que aí se entre-curva
se afunda
se perde

se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

5

prometi a mim mesmo que hoje não escreveria, só leria. li muito e não agüento. cá estou aos oitenta e de vista cansada, bagos frouxos, boca murcha.um excesso de hilda é que me empresta os bagos. perco pudores que ainda restam com hilda que é baixa e suja agora.sofro duma incontinência literária, breve uma urinária me aguarda por suposto, e não bem com escatologias mas é a tentativa de tragar tudo quanto engulo, deglutir tudo quanto cabe numa boca de dente pouco mas sempre insisto em ser em mim, uma tristeza, uma bosta. descobri que segurar o texto um muito é como um orgasmo (mesmo velho e macambúzio gozo) quando depois duma certa espera, vem maior.tenho preferência por ninfetos ágeis e esguios no botão da idade e que me lembrem a mim quando no mesmo tempo posto que é como voltar e pudesse voltava, velho e cansado só por circustância. seduzo velhinhas, faço um sucesso fodido no dentadura-sport-club vulgo bolero-de-terceira-idade . como as velhas por certa verve geni e os ninfetos por gosto, justos. nifetos são mais difíceis e velhas são viúvas e carentes mas isso não importa. o jornal me andou falando e a rádio e os livros. Todos agora falam com velhos, uma crise qualquer na consciência social por marginalizar a velharia e iniciam justo no meu calo, uma tristeza.queria escrever pra todos mas são tantos e nem poderia, uma coleção extensa de pendência em cartas, uma centena que devo ao mundo e só posso responder da minha melhor maneira, escrevendo assim num modus operandi obliquo que leva já toda uma vida e digo isso aquela dos sapatos de crochê pra nenês “e porque que o mundo ia falar com você?”não sei mas falou, agora deve já ter desistido e eu que vejo mais além. velho e paranóico. escrevo desde os cinqüenta e nove quando houve o acidente e perdi uns bons três centímetros da perna esquerda. É por aí, velho e manqueta. todos os dias me debruço no umbigo e vou repuxando uns cordões umbilicais pelo quarto todo até estar teia tétricofágica, fagossimbiótica com mundo de eu do mundo, uma nojeira.Escrevo tratando as palavras na chinela, faço de brinquedo e desentranho elas dos confins de nem-sei-lá e das palavras dos murais do mundo. é de ficar tão à vontade que erro com eram mesmo e vai tudo torto pra ser lido, mas não é pra ser lido é pra ser engolido que escrevo e que erro. velho e ruim de hortografia. engulo tudo quanto me passa pela frente e depois me vão dizer que é sem critério, mas vomito tudo e só depois posso ver e gosto é como rabo já se diz por aí, sendo assim não me fodas ora porra, pois sim, velho e glutão. vou de Brasília pela rua escura de velho e notívago que sou, um porre ao volante e tento ando na rua que até me sabem as putas pelo nome e fazendo charadas sobre o que eu havia dito de amarelinhas e dor na lombar, sempre velho e vadio vou. escrevo na primeira pessoa pra primeira segunda terceira e quarta. tudo sempre de quinta. e me vem dizer que faço diários. mas diários não, minha vida passa mas literatura resta, sabes? expurgo qual pus e tudo que me sai desde a tal data é letra. “velho e fazendo diários” mas diários não, filhas da puta. posso até xingar, adoro a hilda. velho e transgressor só porque me atraso horas, anos. até transgredir é coisa de velho, vê? lhe diga o oiticica que só não ficou velho porque morreu de tanto bacon antes. Sonho com cavalos e centauros dum texto dum cara vivo tal renan e acordo de pau à pino ainda que velho, o que deveria ser um ponto alto, mas depois me vão dizer perverso. velho e velhaco.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

4

Nas adjacências da casa é que me perco. Me deixo girar quarteirões ao acaso como se pudesse afinando um movimento concêntrico, descrevendo espirais anguladas com os passos, propor um cerco à ser gradualmente refinado. Até que se possa girar o entorno da casa e ir parar à porta. Até que se possa girar o entorno dum corpo dentro da casa. Observo os 360 graus que descrevo em torno do corpo e o refinamento vem afinando em pormenores;

As calçadas, as fachadas, o asfalto, as árvores, os outdoors

A raiz da árvore descolando cimento ou asfalto, o panfleto do templo de iemanjá, a ranhura no paralelepípedo que é divisa entre calçada e rua, o neon do câmbio change piscando numa vitrine, as flores feias dum arbusto de espinhos à direita.

A porta da casa e janela entreabertas e o reboco frouxo de ambas, a tinta amarelida de tinta grossa indício de demãos anteriores, as rachaduras da pintura de cal nas paredes da casa, a jardineira fula de mato espesso cheirando abandono, os degraus de mármore cinza-rajado craquelando que antecedem a porta.

O corpo, atenção ao sinuoso da coluna, os olhos calmos de quem se sabe objeto de estudo, o risco no cenho acima do olho esquerdo, a barba e bigode escuros quase negros, os dedos longos e afoitos a boca entreabrindo e mordiscando um lábio inferior vermelho, os cabelos sujos pregados à testa alta de idéia solta e o esguio do corpo de pouca carne.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

anatomia da musa, josé paulo paes

http://www.flickr.com/photos/flofloto2007/

o encontro inesperado do diverso

|





pág 13
(...)

      a minha vida é como essa luz que deixa passar claridade para o outro aposento. por isso, é conforme a este dia, ao outro, ao dia seguinte,
e produz semelhança, sem o ónus da monotonia. tenho a sensação de deixar espalhados  pela casa, e pelos móveis,
pedaços simples de textos livres que, de antemão, nunca serão um livro.
      encontrei este escrito ontem, depois de ter lavado a loiça:_______________________ abriu-se uma chaga no pé de eleanora;
uma ferida de amor que ela lê como sinal de que está pronta para se levantar,
pousar o bordado com o desenho do falcão,
e partir. " o pano que bordo, doz-me ela, é a parte mais leve dessa ave. distingo nitidamente vários pontos da realidade.
descubro, ao abrir a porta da despensa, que a arte de fazer-me mulher é deixar crescer, na minha sombra, o meu outro igual de poder.
Luís M diz-me no amor; " dá-me a tua vontade, que eu te darei a força".
olho-me ao espelho, e se o seu reflexo me mandasse reiniciar o bordado ________________.
     "sabes quem é o falcão?", interrompo-a.não me ouve, e responde-me que deve esperar o amor, que são diferentes os ritmos do sono e mutáveis os rostos do amor.
     uma ansiedade tranquila toma-nos de cima, e alguém nos vem chamar; "são horas de jantar" . eleanora ri. " são horas de jantar, ou de partir para quem amo?"





llansol, maria gabriela
lisboaleipzig 1

domingo, 19 de setembro de 2010

144


 
         Depois dos dias todos de chuva, de novo o céu traz o azul, que escondera, aos grandes espaços do alto. Entre as ruas, onde as poças dormem como charcos do campo, e a alegria clara que esfria no alto, há um contraste que torna agradáveis as ruas sujas e primaveril o céu de inverno baço. É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona.
         Passeio como um caixeiro liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer.
         Na grande praça dominical há um movimento solene de outra espécie de dia. Em São Domingos há a saída de uma missa, e vai principiar outra. Vejo uns que saem e os que ainda não entraram, esperando por alguns que não estão vendo quem sai.
         Todas estas coisas não têm importância. São, como tudo no comum da vida, um sono dos mistérios e das ameias, e eu olho, como um arauto chegado, a planície da minha meditação.
         Outrora, criança, eu ia a esta mesma missa, ou porventura à outra, mas devia ser a esta. Punha, com a devida consciência, o meu único fato melhor, e gozava tudo - até o que não tinha razão de gozar. Vivia por fora e o fato era limpo e novo. Que mais quer quem tem que morrer e o não sabe pela mão da mãe?
         Outrora gozava tudo isto, por isso é só agora, talvez, que compreendo quanto o gozava. Entrava para a missa como para um grande mistério, e saía da missa como para uma clareira. E assim é que verdadeiramente era, e ainda verdadeiramente é. Só o ser que não crê e é adulto, com alma que recorda e chora, são a ficção e o transtorno, o desalinho e a lajem fria.
         Sim, o que eu sou fora insuportável, se eu não pudesse lembrar-me do que fui. E esta multidão alheia que continua ainda a sair da missa, e o princípio da multidão possível que começa a chegar para entrar para a outra - tudo isto são como barcos que passam por mim, rio lento, sob as janelas abertas do meu lar erguido sobre a margem.
         Memórias, domingos, missas, prazer de haver sido, milagre do tempo que ficou por ter passado, e não esquece nunca porque foi meu… Diagonal absurda das sensações normais, som súbito de carruagem de praça que soa rodas no fundo dos silêncios ruidosos dos automóveis, e de qualquer modo, por um paradoxo maternal do tempo, subsiste hoje, aqui mesmo, entre o que sou e o que perdi, no antero olhar de mim que sou eu…





Bernardo Soares - Livro do Desassossego

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

 Ps. 

"Todas as personagens de Tchekhov tropeçam nas pedras porque não
conseguem tirar os olhos das estrelas" (Nabokov)





domingo, 12 de setembro de 2010

Entre a constelação e a nebulosa : passagens :

 

Ansié la dispersión de las duras constelaciones, esa súcia propaganda luminosa del Trust Divino Relojero. (Julio Cortázar, Rayuela, cap. 67).

 

Trechos d’Un livre blanc (Philipe Vasset) :

...

Je m’abandonnis alors au plaisir d’être nulle part, m’imaginant pour quelques heures soustrait à l’emprise de la surveillance urbaine et savourant, au milieu des ordures et des herbes folles, un paradoxal sentiment d’intimité et de confort. Puis, déterminé à ce que quelque chose apparaisse, je revenais, parfois à chaque visite les modifications du paysage et les retraits et les avancées de la ville, qui déferlait sur les friches comme la mer sur l’estran. (95)

 

[…]

 

J’étais dans les zones blanches comme avant le surgissement du texte, dans un grand vide où rien ne se fixe, où les expressions les plus contradictoires passent et repassent sans interférence et, au lieu de chercher à m’en extraire, je me complaisais dans cette languide plénitude infra-langagière, retardant au maximum le moment où un concept, une intuition finirait par polariser la langue. (101)

 

[…]

 

(les cuves, silos et autres châteaux d’eau sont le reflet inversé des zones blanches : visibles à des kilomètres, ils restent malgré tout fermés, opaques et mystérieux, alors que les terrains vagues, imperceptibles sans le filtre de la carte, s’offrent sans difficulté une fois localisés. Réservoirs et friches pourraient constituer les parties émergées d’une même entité, une poche souterraine d’histoires et de noms dont la masse gonfle et creuse le paysage). (109)

 

[…]

 

Mais, tandis que je progressais, des brèches s’ouvraient en enfilade, des bâtiments entiers, des rues, apparaissaient puis disparaissaient, et partout se glissaient des ombres furtives : c’etait comme si j’avais trouvé les aires où la ville se vaporisait, chacun de ses éléments devenu si léger qu’un souffle le dissipait. Les façades, les mobiliers et les silhouettes voletaient comme des cendres au-dessus d’un foyer, puis, d’un coup, tout retombait, et il n’y avait plus que des débris noircis. 

 

Certaines villes étaient plus propices que d’autres à de tels phénomènes : le dessin de Gennevilliers, de Clichy, de Saint-Ouen, d’Auverbilliers, de La Courneuve et de Pantin fluctuait comme un réseau d’ombres projetées sur le sol par des branches d’arbres. Paris, en revanche, apparaissait couvert d’une couche interrompue de bâti, sans interstices entre les immeubles, les boutiques, les parkings, les centres commerciaux, et les rues piétonnes. La ville ressemblait à son plan : un agrégat de carrés et de rectangles diversement colorés et labellisés en gros caractères (« C’est désormais la carte qui […] engendre le territoire » - Jean Baudrillard, Simulacres et simulation). (121)

 

[…]

 

Je ne supportais pas cette image d’une cité totalement balisée, sans jeu entre les diverses constructions, d’un monde où l’on sait toujours où l’on est. Comme un volcan grondant au fond de la forêt, il faut que, quelque part dans la ville, il y ait un endroit où sourd l’inconnu. C’est pourquoi j’aime tellement Jules Verne : chaque personnage des Voyages extraordinaires lutte de toutes ses forces contre l’idée d’un monde fini qui ne ferait que dérouler des motifs déjà vus cent fois.

 

Comme eux, je n’arrivais à accepter l’image que me présentait le plan, celle d’un Paris uniformément construit, bloc grisé qu’aucune fissure n’entamait. Ce n’était plus une ville mais une maquette : qui vivait là ? (123-124).

 

[…]

 

Je rêvais de villes à la trame mitée, comme Rome et Berlin, où subsistent encore, près de la via di Bravetta et sur l’Orianenburgerstrasse, des friches gigntesques, ou encore de Johannesburg, irrégulièrement perforé de profonds puits de mine. J’imaginais quel quartier, quel monument pourrait être avantageusement remplacé par un terrain vague : l’Opéra (pas Garnier – ses toits offrents un exceptionnel terrain de jeu –, mais Bastille) ? Le Sénat, l’Assemblée nationale ? L’île Saint-Louis (tentant : on ne laisserait debout que Notre-Dame et la Saint-Chapelle, dont les tours, au bout de quelques années, émergeraient d’un indescriptible fouillis végétal) ? Le XVIe (mais c’est déjà un désert) ? L’Arc de triomphe, ne serait-ce que pour le plaisir rompre la perspective grandiloquente Concorde-Étoile-Défense ? Rive gauche, on raserait l’Académie française, les Invalides, l’École militaire et la plupart des ministères en bord de Seine, ne laissant dans l’herbe que quelques sections de corniches dorées et des morceaux du dôme de l’Institut. Les Halles, le front de Seine et de La Défense seraient intégralement vidés de leur population salariée et les bureaux, laissés en l’état, ouverts au public : on interdirait, sur ces sites, toute nouvelle implantation d’entreprises ou de commerces. Enfin, à l’image de la tour Saint-Jacques, jamais aussi belle que depuis qu’elle est intégralement recouverte d’échafaudages, des réseaux de poutrelles de métal serrées viendraient masquer certains monuments, tels le Panthéon et l’Obélisque. (126-127).

 

[…]

 

Terrains d’excursions balisés, les jungles, les déserts et les montagnes ont cessé d’être des terra incognita : la frontière du monde connu passe désormais aux portes des villes. Les mégalopoles s’indifférencient sur leurs marges, et les zones blanches sont les avant-postes de cette transformation, les points par  où Paris, Lagos e Rio communiquent come les bassins d’une écluse. Un double mouvement rapproche les grands centres urbains : à l’internationale, grossièrement mise en scène, des sièges sociaux et des salons VIP répond celle des terrains vagues et des bidonvilles, zones poreuses, reliées entre elles par un réseau de correspondances fines comme des vaisseaux capillaires et qui peuvent permettre de voyager sans bouger. (130-131).

 

[…]

 

Un malaise finit par nous gagner, mélange de mal de mer et d’illusion d’optique persistante, et, pour le dissiper, on fixe son regard sur un détail jusqu’à le voir effectivement changer. Rien ne se passe, et quand, de guerre lasse, on détourne les yeux, c’est encore un nouveau panorama. (132)

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obs:

 

As areias do deserto e as águas do mar, o espelhismo e o marear-se, ambos ejôos diante da permanente mudança que é também monotonia (tudo azul, tudo amarelo e azul). Parece que hoje ensaiamos a possibilidade de cartografar o imapeável (cartografia videográfica ?), de habitar o inhabitável (informática difusa ?), ainda que continuemos buscando um ponto de referência, um detalhe, uma linha de fuga onde possamos ancorar um tímido principium individuationis. E neste sentido algo me diz que paulatinamente passamos da sensação de exílio (da nostalgia de um paraíso perdido, das grandes representações) a outra coisa, algo novo, um elogio do território-fronteira, da dispersão, de um ser passageiro, de um constante depaysement.