pra júlia the bass,
pra todos os interessados.
linda,
te escrevo com vontade de conversar a dois. eu sei que falo tanto que acabo esvaziando o sentido das coisas. vamos ver se mudo.
acontece que fernando, ícaro e yo, talvez francine e érica também (creo que sí), andamos num mundo de referências que levam umas às outras. eu e fernando com as referências à religiao, a idéia de simultaneidade, de hipertexto, de constelaçao entre mundos contíguos, de demônios e robôs, de cidade vezes mil, de flaneuries, leituras várias, deleuze (fernando), benjamin (yo), eliade (fernando), bataille (yo), coisas que se conectam numa onda marola sem fim.
e chego a afirmar que é pra falar, pra expandir as referencias, pra potencializar a fala, porque hoje vivemos ni toda uma onda anti-intelectual que nao curto nada de nada, uma onda "matar a cabeça pra domesticar o corpo". assim que nao nego, renego e nem nada de vergonha de fazer referencias a mil textos hiper. pelo contrario. é como naquela tua entrevista, em que você diz que o que importa é ter-criar um universo estético, né?
pois isso. acho que a gente tem tentado, com a revista mesmo, construir universos estéticos paralelos e intercambiantes. e as referencias, os conceitos mais doidos (nebulosa do pensamento, constelaçao-correspondencia entre mundos contiguos, alteridade, todos esses clichês maravilhosos super-pós-mô) nos servem de colagem - como nas letras do caetano, que pega um pouco de dorival, de wim wenders, orlando silva, bob dylan e john lennon, misturando num mar bahiano cheio de tonalidades de azul.
sem falar que sequer sao "conceitos", e talvez nem mesmo "imagens", arquétipos,
mas figuras.
glauber rocha teve que sair do brasil por dez anos, dar uma volta na africa, frança, italia, catalunya, portugal, pra voltar xamâ e fazer o idade da terra. preparava um filme que se passaria no irâ e morreu de assassinato cultural.
pitágoras caminhou até a índia num exílio-errancia total pra voltar xamâ, misturando matemática e misticismo.
nesse sentido falou o fernando com relaçao ao contato com a alteridade.
pra mim o mais importante é a gente pensar na idéia de constelaçao de que fala benjamin. constelaçao entre pensamentos e tempos distintos. constelaçao desenhada no google map, onde cada estrela é o lugar onde vive cada um.
mas enfim.
se você tem duvidas, xuxu, com relaçao a qualquer coisa, me escreve. queria pedir pra você me mandar um mail dizendo o que você pensa de tudo isso, toda essa errancia-exilio-deslocamento-desvio. sobre o que você pensa em fazer-constribuir-cuspir. o que você acha? me diz o que vê nisso tudo. se tá escuro demais ou se rola de fazer jà uma associaçao psicologica livre e criadora.
reli teu EXÍLIO agora. adoro. no duro. me transporta pra tua janela. acontece que penso que é um texto antigo e tenho vontade de ver outras coisas tuas. será que tem uma mùsica? (aliás, com relaçao à musica, pensava em no inicio por uma playlist, mas com as instrumentais - pra poder ler e ouvir. e no meio colocar as que tem letras com relaçao à temática deslocamento, separando-destacando. o que você acha?) um quadro, uma xerox (várias) do teu caderno? uma traduçao???!!! um texto-trem (folk).
te imagina um maquinista atravessando os states.
te imagina um gringo no sol de copa (falando inglês). o sol que me faz fastasma.
te imagina uma desvairada em sampa.
te imagina n´outro dia de chuva em sampa. tudo alagado. faltando luz.
quelque chose, xuxu. quelque chose.
você me escreve?
se incomoda desse mail que começou pra ti e virou pra geral?
beijo nessa sua bunda linda,