Pesquisar este blog

[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





para chegar até lá, siga a seta vermelha:

ctrl + c -> aeromancia.blogspot.com -> ctrl + v -> barra de endereços -> enter



érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

terça-feira, 30 de junho de 2009

lulu,
andei pensando um pouco.
ando meio deprê e acho que não quis me expressar direito aquele dia.
talvez daí vc achar que me irritava com a discussão.
mas fiquei pensando:
se você tá afim de fazer uma parada sobre roteiro não aristotélico,
fiquei pensando no cuidado de não fazer uma oposição que sé yo,
no sentido de que muitas vezes se opor acaba sendo uma maneira de legitimar.
vê os filmes do straub, o NO QUARTA DA VANDA do pedro costa, tsai ming-liang você já deve sacar...
esquece esse lance do pedrinho ter feito um filme que é o ensaio de uma banda.
dependendo da maneira com que ele filma pode ser absolutamente alucinante.
e sobretudo chris marker.
eu sei que tu quer escrever sobre ficção, mas acho que o marker é sempre e muito importante pra pensar o cinema do pensamento-dissolvência.
e antonioni, do l'aventura e deserto rosso, que são, a meu ver, a maior influência do cinema chines atual - me refiro a ziang khe e ming-liang.
enfim. vontade de charlar essas coisas. talvez por estar um pouco longe de pessoas que pensam cinema e próximo demais das que fazem.
to afim de ir filmar umas ruínas com a ana. não sei se ela quer ir só comigo ou sei lá. mas pode ser uma d'a gente ir junto, tu topa?
acho que vai ser na terça que vem.
escrevi um roteirinho guia pra fazer um curta lá.
é um lugar infinitamente alucinante.
enfim.
não fala mal do deserto vermelho e nem do benjamin que eu nao esculhambo com o godard e nem com o cine de autor.
pra mim são justamente antonioni e benjamin os criadores do pós. das alegorias, do sol que nasce e se põe ao mesmo tempo, flor que abre e murcha, ruínas e edifícios em construção. eclipse.
godard é que é conceitual - moeda essa de dois lados.
viva fluxus, peter tchekarrsky y tudo o mais,
pra acabar com as barreiras entre cine experimental e cine narrativo.
como lou reed e yoko ono.
dark day.
um dia de chuva e casamentos de raposa.
straub marker rouch costa.
beijinhos,
amanha vou na filmoteca às 8.
qualquer coisa liga.
hasta,
<<<...>>>
<<<...>>>
eu acho, na real, que tudo isso começou com o cinema da balade, o cinema da deriva, do ser que vaga pela cidade, o cinema do flaneur. isso no sentido do neo-realismo italiano, mas principalmente com relação ao neo-realismo sem bicicleta - como bossa nova sem barquinho.
o cinema da deriva, como em tsai ming-liang, é o que mais me apaixona. nesse sentido lucrécia martel em la mujer sin cabeza. duas maneiras de oprimir o personagem. o plano geral que faz da mulher um ser diminuto na paisagem urbano-chinesa. o plano médio e proximo sem profundidade de campo, que distancia a pessoa da realidade-névoa.
o flaneur como maior concentração e dispersão ao mesmo tempo.
kiarostami. um homem pede informação pruma pessoa. não vemos a pessoa.
não sei se é no ATRAVÉS DAS OLIVEIRAS, ou no VIDA E NADA MAIS em que temos uma cena em que uma maçã cai no chão, só que o chão tá tão irregular devido a um terremoto que a maçã nunca repete um mesmo trajeto. ou seja, ela vai, volta por outro caminho, faz circulos, traços, nunca linear e nem circular.
nesse cinema o tempo se expande como o espaço após um terremoto. espaço atravessado por um personagem.
road (carretera) movie.
você já viu ALPHAVILLE, né?
ali por exemplo ele propõe a sobreposição de três tempos, saca?
o tempo circular do cinema francês, em que não saímos do campo/contra-campo das relações amorosas. o tempo linear do cinema de ação norte-americano. e o tempo caos soma dos dois.
daí os varios simbolos e titulos do filme - que são vários.
como em LA JETÉE em que o futuro se encontra com o passado. a modernidade das cavernas.
enfim, xuxu. na verdade tudo isso acaba se concentrando na idéia de imagem-tempo. com certeza o livro do deleuze vai te dar dor de cabeça e te inspirar. porque esse lance aristotélico já vem se quebrando desde há muito. o pré-cinema e o cinema impressionista francês dos anos 20 que o digam.
pré-cinema ao qual voltamos com o cine de atração. mas essa é outra história.
talvez não tenha tanta coisa de roteiro sobre isso porque são filmes que se dissolvem numa repetição expansiva não padronizada ( que sé yo...).
ainda acho que O PANTANO é total naturalista com coisas de cinema mudo e emile zola na veia. fatalismo total.
o corpo, o lance orgânico, a realidade que não pode ser apreendida como um todo, e ainda assim a sensação de que parece haver um mecanismo por detrás de tudo, uma espécie de deus louco que vai lançando dados...
da fragmentação à justaposição... da natureza ao símbolo e ao formalismo.
porque o que acho que mais falta nesses filmes todos contemporaneos é a idéia de um processo histórico, ou seja, de um realismo lukaksiano. num mundo onde não há mais sujeito clássico, onde o objeto se fragmentou e o sentido se perdeu, segundo benjamin, num mundo assim como acreditar num processo totalizante. a história se esfrangalha e se potencializa ao mesmo tempo. daí o cinema da deriva... o cinema da balade, segundo deleuze...
a impossibilidade de totalizações... a morte dos eruditos, dos santos, dos intelectuais, dos filósofos, dos ideólogos... depois da década dos necrológios (anos 80/90).
e ainda assim a religião, o mito, a aranha... como ausência.
afe...
te ligo mais tarde então.
dessas coisas falo por mail. de besteiras ao vivo.
beijonces milis,

Arquivo