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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"metáfora"

. somos eu, a arena, o touro. arena mínima, touro enorme. eu danço na frente do touro, tento apaixoná-lo por mim. há doçura no olhar do touro, doçura, loucura, catástrofe. somos parecidos de certa forma. mas eu sei disso, ele não sabe. meu bailado parece irritá-lo, faz o touro andar em círculos. paro na frente dele, mas não há como rezar, não há tempo para se fechar os olhos, sou levado a correr em círculos. fora da arena os olhares frios, sei que deixam o touro tenso tanto quanto a mim, que tenho menos pernas e a pouca sorte de saber que, com frieza, eles riem por dentro, se divertem. além disso, o touro não sabe como estou sozinho, na arena que, maior que a arena, tem o tamanho do mundo inteiro. o touro não sabe o tamanho do mundo inteiro, eu também não sei, mas, por azar, posso imaginar: vantagem do touro. o touro não sabe da solidão, mas, melhor que eu, ele sente a brasa na pele todos os dias. compreende melhor a saliva que lhe escorre pelo focinho. começa a corrida, somos dois desesperados, atrás da trégua que nos trará água, um cafuné. não há água, cafuné: há palmas. nem o touro nem eu entendemos as palmas, o que nos aproxima. sabemos apenas que as palmas significam "nos tirem do tédio". estamos juntos, de certa forma, e tenho vontade de abraçá-lo, passar de leve a mão na cabeça do touro, mas ele não tem mãos para passar na minha, só sabe que deve me espetar seu chifre, só conhece o vermelho depois do espanto, enquanto eu canso, despisto o touro como posso, peço calma, mas ele não fala a minha língua e os olhares frios indicam que nem mesmo eu falo minha língua, e corro, dou voltas, me desequilibro, caio, levanto, corro ainda mais. fugimos um do outro, o touro e eu, mas as palmas, a frieza são grandes inimigas, nos levam a fazer o círculo tantas vezes, o mesmo círculo, sem motivo. em tempo, as palmas no fim deixam-nos, a mim a ao touro, como mestres com suas cartolas e delas tiramos a paz evitada já que nosso couro é a bússola que justifica o tédio público e nos faz seguir em círculos, agora uma vez mais extasiados. enquanto abandonam a arena, somos dois corpos exaustos, repletos de morte e passagem. as cercas já não nos convidam à fuga silenciosa dos presos perigosos, somos apenas dois iguais, com sede de aplauso, e estamos os dois, no mundo, entediados de nos sabermos fortes, fora dos planos, enfim. .

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