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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sábado. Praça XV de novembro. Um belchior me deu um maço de cartas. Papéis manuscritos e datilografados. Depois eu perguntei quanto lhe devia. Ele disse que não tem preço. Às vezes os adeleiros sabem que os resíduos, as coisas arruinadas que comercializam, são valiosos demais para terem algum valor. O intercâmbio dos objetos descartados, abandonados e obsoletos, não é, para muitos deles, o gesto de reinvestir esses objetos na lógica capitalística. Um homem e uma mulher trocaram muitas correspondências. As primeiras são de quando ela está de partida para Montevidéu. Ela pergunta por que, necessariamente, precisamos usar palavras tão áridas para ainda reiterar o difícil? Por que tem de ser difícil? Ainda não sei o que os levou a escrever. Quem eles são ou o que significam, um, no outro. Depois, em 1979, só há cartas dele. Ela calada, o misterioso silêncio não o aflige. Ele remeteu muitas vezes ao mesmo endereço em Santiago del Chile. Quando ela finalmente voltou a lhe escrever, em 81, ela conta que já não tem a remington e que jamais voltará a escrever à máquina: você acompanhará o tremor avançar sobre minha caligrafia.

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