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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

roteiro para um filme de duras

a jovem mulher das noites pagas deveria estar deitada sobre lençóis brancos no meio da cena. ela poderia estar nua.em volta dela,um homem andaria contando a história. apenas a mulher diria o seu papel de cabeça.o homem,nunca.o homem leria o texto,seja parado,seja andando em volta da jovem. aquele de que fala a história não seria nunca representado.mesmo quando ele se dirigisse a moça,seria por intermédio do homem que lê a sua histôria. aqui,a representação seria substituida pela leitura.PENSO SEMPRE QUE NADA SUBSTITUI A LEITURA DE UM TEXTO,que nada substitui a falta de memória do texto,nada,nehuma representação. os dois atores deveriam então falar como se estivessem escrevendo o texto em quartos separados,isolados um do outro. o texto se anularia se fosse dito teatralmente. a voz do himem deveria ser alta,a da mulher,baixa,quase descuidada. eu gostaria de os trajetos do homem em volta do corpo da jovem fossem longos,que se perca o homem de vista,que ele se perca no teatro como no tempo para voltar em seguida para a luz,para nós. o palco deveria ser baixo,quase no chão,para que a jovem seja vista de corpo inteiro. grandes espaços de silêncio deveriam ser observados entre as noites pagas durante os quais nada aconteceria senão a passagem do tempo. o homem que lê a historia deveria ter uma fraqueza essencial e mortal que seriam a do outro homem – aquele não representado. a jovem seria bonita,pessoal. por um grande abertura escura chegaria o barulho do mar.ver-se-ia sempre o mesmo retângulo negro, que não se iluminaria nunca.o barulho do mar seria as vezes menos forte. a partida da mulher não seria vista.haveria um escuro durante o qual ela desapareceria,e quando a luz voltasse haveria apenas lençóis brancos no meio do palco e o barulho do mar que bateria com força pela porta escura. não haveria música. se eu filmasse o texto,eu queria que os choros do mar subissem de forma que se visse o estrondo da brancura do mar e o rosto do homem quase ao mesmo tempo,que haja uma relação entre a brancura dos lençóis e a do mar.que os lençóis sejam já uma imagem do mar

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