a jovem mulher das noites pagas deveria estar deitada sobre lençóis brancos no meio da cena.
ela poderia estar nua.em volta dela,um homem andaria contando a história.
apenas a mulher diria o seu papel de cabeça.o homem,nunca.o homem leria o texto,seja parado,seja andando em volta da jovem.
aquele de que fala a história não seria nunca representado.mesmo quando ele se dirigisse a moça,seria por intermédio do homem que lê a sua histôria.
aqui,a representação seria substituida pela leitura.PENSO SEMPRE QUE NADA SUBSTITUI A LEITURA DE UM TEXTO,que nada substitui a falta de memória do texto,nada,nehuma representação.
os dois atores deveriam então falar como se estivessem escrevendo o texto em quartos separados,isolados um do outro.
o texto se anularia se fosse dito teatralmente.
a voz do himem deveria ser alta,a da mulher,baixa,quase descuidada.
eu gostaria de os trajetos do homem em volta do corpo da jovem fossem longos,que se perca o homem de vista,que ele se perca no teatro
como no tempo para voltar em seguida para a luz,para nós.
o palco deveria ser baixo,quase no chão,para que a jovem seja vista de corpo inteiro.
grandes espaços de silêncio deveriam ser observados entre as noites pagas durante os quais nada aconteceria senão a passagem do tempo.
o homem que lê a historia deveria ter uma fraqueza essencial e mortal que seriam a do outro homem – aquele não representado.
a jovem seria bonita,pessoal.
por um grande abertura escura chegaria o barulho do mar.ver-se-ia sempre o mesmo retângulo negro,
que não se iluminaria nunca.o barulho do mar seria as vezes menos forte.
a partida da mulher não seria vista.haveria um escuro durante o qual ela desapareceria,e quando a luz voltasse haveria apenas lençóis brancos
no meio do palco e o barulho do mar que bateria com força pela porta escura.
não haveria música.
se eu filmasse o texto,eu queria que os choros do mar subissem de forma que se visse o estrondo da brancura do mar e o rosto do homem quase ao
mesmo tempo,que haja uma relação entre a brancura dos lençóis e a do mar.que os lençóis sejam já uma imagem do mar