o encontro inesperado do diverso
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a minha vida é como essa luz que deixa passar claridade para o outro aposento. por isso, é conforme a este dia, ao outro, ao dia seguinte,
e produz semelhança, sem o ónus da monotonia. tenho a sensação de deixar espalhados pela casa, e pelos móveis,
pedaços simples de textos livres que, de antemão, nunca serão um livro.
encontrei este escrito ontem, depois de ter lavado a loiça:_______________________ abriu-se uma chaga no pé de eleanora;
uma ferida de amor que ela lê como sinal de que está pronta para se levantar,
pousar o bordado com o desenho do falcão,
e partir. " o pano que bordo, doz-me ela, é a parte mais leve dessa ave. distingo nitidamente vários pontos da realidade.
descubro, ao abrir a porta da despensa, que a arte de fazer-me mulher é deixar crescer, na minha sombra, o meu outro igual de poder.
Luís M diz-me no amor; " dá-me a tua vontade, que eu te darei a força".
olho-me ao espelho, e se o seu reflexo me mandasse reiniciar o bordado ________________.
"sabes quem é o falcão?", interrompo-a.não me ouve, e responde-me que deve esperar o amor, que são diferentes os ritmos do sono e mutáveis os rostos do amor.
uma ansiedade tranquila toma-nos de cima, e alguém nos vem chamar; "são horas de jantar" . eleanora ri. " são horas de jantar, ou de partir para quem amo?"
llansol, maria gabriela
lisboaleipzig 1