Nas adjacências da casa é que me perco. Me deixo girar quarteirões ao acaso como se pudesse afinando um movimento concêntrico, descrevendo espirais anguladas com os passos, propor um cerco à ser gradualmente refinado. Até que se possa girar o entorno da casa e ir parar à porta. Até que se possa girar o entorno dum corpo dentro da casa. Observo os 360 graus que descrevo em torno do corpo e o refinamento vem afinando em pormenores;
As calçadas, as fachadas, o asfalto, as árvores, os outdoors
A raiz da árvore descolando cimento ou asfalto, o panfleto do templo de iemanjá, a ranhura no paralelepípedo que é divisa entre calçada e rua, o neon do câmbio change piscando numa vitrine, as flores feias dum arbusto de espinhos à direita.
A porta da casa e janela entreabertas e o reboco frouxo de ambas, a tinta amarelida de tinta grossa indício de demãos anteriores, as rachaduras da pintura de cal nas paredes da casa, a jardineira fula de mato espesso cheirando abandono, os degraus de mármore cinza-rajado craquelando que antecedem a porta.
O corpo, atenção ao sinuoso da coluna, os olhos calmos de quem se sabe objeto de estudo, o risco no cenho acima do olho esquerdo, a barba e bigode escuros quase negros, os dedos longos e afoitos a boca entreabrindo e mordiscando um lábio inferior vermelho, os cabelos sujos pregados à testa alta de idéia solta e o esguio do corpo de pouca carne.