Nau de dentro
o horizonte
é pérola e espuma
e por mim não guarda canto:
canta
abre a boca em cinco tons
e os expele.
no horizonte
sem um porto a dar na vista
permaneço indevindo
rabiscando
quase nada recriando
mil mentiras
e perdendo o eixo a rima
sem saber como
voltar.
YOKATTA
Quando eu penso em seus olhos meus olhos estufam.
A lembrança belicosa aqui é amor e graça, mas como dói. As janelas pegam fogo bem como as casas, as ruas, as portas dos hospitais, dos puteiros, das escolas, das igrejas, tudo pega fogo, tudo se desfaz agora. É que a saudade fez morada do meu peito.
Me fiz audaz, mas de nada adiantou.
Meus pés e minhas mãos amputados, meus olhos cegos / O que sou agora?
As ruas me trazem o cheiro de volta, rapaz, e com calma finjo paciência. As ruas me trazem o seu cheiro de volta.
Agora que sou invisível, que estou morto, que não tenho mais pra onde ir,
agora sua vida começa.
Ikiru, ikiru,
shitashii.
Ikiru, ikiru, (oni)
shitashii.
Shitashii.
Shitashii.
Cunhã Ponderosa
para Rogério Skylab
Ela,
brincando de soldado e faca pediu-me um beijo artesão. Respondi-lhe “sou quase indústria, lixo do mundo doente – jamais serei artesão”.
Querendo mais-que-querendo mordeu meus lábios nervosos e depois cuspiu no chão. “Tens gosto de fumaça e tédio!”, me disse com cara de nojo.
“Eu sou um sujeito padrão”.
Babacas das grande cidades,
uni-vos.
Uirá dos Reis é poeta e compositor.