rené char em Protesto com Picasso nas alturas do Mont Ventoux contra as instalações nucleares.
Tu as bien fait de partir, Arthur Rimbaud!
Fureur et mystère, 1962
Tes dix-huit ans réfractaires à l'amitié, à la malveillance, à la sottise des poètes de Paris ainsi qu'au ronronnement d'abeille stérile de ta famille ardennaise un peu folle, tu as bien fait de les éparpiller aux vents du large, de les jeter sous le couteau de leur précoce guillotine. Tu as eu raison d'abandonner le boulevard des paresseux, les estaminets des pisse-lyres, pour l'enfer des bêtes, pour le commerce des rusés et le bonjour des simples.
Cet élan absurde du corps et de l'âme, ce boulet de canon qui atteint sa cible en la faisant éclater, oui, c'est bien là la vie d'un homme! On ne peut pas, au sortir de l'enfance, indéfiniment étrangler son prochain. Si les volcans changent peu de place, leur lave parcourt le grand vide du monde et lui apporte des vertus qui chantent dans ses plaies.
Tu as bien fait de partir, Arthur Rimbaud! Nous sommes quelques-uns à croire sans preuve le bonheur possible avec toi.
René Char
FIZESTE BEM EM PARTIR, ARTHUR RIMBAUD!
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Teus dezoito anos
refratários à amizade, à malevolência, à bobeira dos poetas de
Paris, assim como ao zunzum de abelha estéril de tua família
ardenesa um pouco doida, fizeste bem em espalhá-los aos
quatro ventos, em jogá-los sob a lâmina de sua guilhotina
precoce. Tiveste razão em abandonar o bulevar dos preguiço-
sos, os botequins dos mija-liras, pelo inferno das feras, pelo
comércio dos espertos e o bom-dia dos simples.
Este impulso absurdo do corpo e da alma, esta bala de
canhão que explode seu alvo, sim, é isso mesmo a vida de um
homem! Não se pode, indefinidamente, saindo da infância,
estrangular seu próximo. Se os vulcões mudam pouco de lugar,
sua lava percorre o grande vazio do mundo levando virtudes
que cantam em suas feridas.
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Ainda há quem
creia, sem provas, que contigo a felicidade é possível.
Fúria e Mistério - 1962
Nu perdido e outros poemas. Iluminuras, 1983.
Trad. Augusto Contador Borges. p. 151