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o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
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o tempo para trás levou
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domingo, 14 de março de 2010

Plano-Piloto para Poesia Concreta
Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos
Noigrandes, 4, São Paulo, 1958.

















poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas dando por encerrado o
ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar
conhecimento do espaço gráfico como agente estrutura. espaço qualificado: estrutura
espaço-temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear, daí a
importância da idéia de ideograma, desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou
visual, até o seu sentido específico (fenollosa/pound) de método de compor baseado
na justaposição direta – analógica, não lógico-discursiva – de elementos. “il faut que
notre intelligence s’habitue à comprendre synthético-ideographiquement au lieu de
anlytico-discursivement” (apollinaire). eisenstein: ideograma e montagem.
(...)
poesia concreta: tensão de palavras-coisas no espaço-tempo. estrutura dinâmica:
multiplicidade de movimentos concomitantes. também na música – por definição, uma
arte do tempo – intervém o espaço (webern e seus seguidores: boulez e stockhausen;
música concreta e eletrônica); nas artes visuais – espaciais, por definição – intervém o
tempo (mondrian e a série boogie-wogie; max bill; albers e a ambivalência perceptiva;
arte concreta, em geral).
ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto comunica a sua
própria estrutura: estrutura-conteúdo. o poema concreto é um objeto em e por si
mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos
subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica). seu
problema: um problema de funções-relações desse material. fatores de proximidade e
semelhança, psicologia da gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o
sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área lingüística específica
– “verbivocovisual” – que participa das vantagens da comunicação não-verbal em
abdicar das virtualidades da palavra. com o poema concreto ocorre o fenômeno da
metacomunicação; coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-
verbal, coma nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-
conteúdo, não da usual comunicação de mensagens.
a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à
substantivação e à verbificação: “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas
afinidades com as chamadas “línguas isolantes” (chinês): “quanto menos gramática
exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente (humboldt
via cassirer)". o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada
exclusivamente na ordem das palavras (ver fenollosa, sapir e cassirer).
ao conflito de fundo-e-forma em busca de identificação, chamamos de isomorfismo.
paralelamente ao isomorfismo fundo-forma, se desenvolve o isomorfismo espaço-
tempo, que gera o movimento. o isomorfismo, num primeiro momento da pragmática
poética, concreta, tendo à fisionomia, a um movimento imitativo do real (motion);
predomina a forma orgânica e a fenomenologia da composição. num estágio mais
avançado, o isomorfismo tende a resolver-se em puro movimento estrutural
(movement); nesta fase, predomina a forma geométrica e a matemática da
composição (racionalismo sensível).
renunciando à disputa do “absoluto”, a poesia concreta permanece no campo
magnético do relativo perene. cronomicrometragem do acaso. controle. cibernética. o 
poema como um mecanismo, regulando-se a próprio: “feedback”. a comunicação mais
rápida (implícito um problema de funcionalidade e de estrutura) confere ao poema um
valor positivo e guia a sua própria confecção.
poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem. realismo total.
contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonista. criar problemas exatos e
resolvê-los em termos de linguagem sensível. uma arte geral da palavra. o poema-
produto: objeto útil.





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