PARA COMEÇAR A FALAR EM LÖIC (1)
Para começar a falar em Löic preciso tornar atrás
um tempo e ver o quanto passamos naquele lugar quen
te e úmido onde ele construía seu iglú
Löic devia apresentar mais um projeto para a banca
examinadora ( eu também para a minha ) e nós tratá
vamos de continuar brincando de engenheiros mirins
apesar da falsa seriedade do caso
As bancas eram fictícias assim como o cérebro dos
jurados e o que mais atrapalhava era a seguran
ça destinada a nos atender
eu o havia conhecido no meio de uma festa de artis
tas ou num dos escritórios da banca que nos havia
convidado a preencher aquele espaço com 1000 dóla
res de nossas ingenuidades ( casuais )
nos mantivemos firmes eu com meu piano e Löic com
seu iglú, ele não era bretão nem desenhava menires
no ar enquanto assoviava
mas sabia subir rápido uma escada e havia me ensina
do a andar de cabeça para baixo e a recortar mol
des de gelo para o iglú , esse ficava no meio de
uma planície perto da jamaica talvez , seus vizi
nhos viviam numa horrenda construção preta quente
e inabitável
Löic havia ganho também uma espécie de terreno mura
do como o meu mas quadrado , não havia lugar para
fazer fogo por isso usava um grosso pullover
não tinha nenhum rio e lá longe podia ver-se o lago
O chão era duro como cimento e uma grande coluna
branca servia para deixar seu cavalo mas dificulta
va a escolha do lugar para o porto e a nave naufra
gada
Foi ele quem me mostrou o que fazer com o meio da
espiral , foi ele quem fechou o piano e me fazia
dormir cedo esquecendo a maioria das festas a que
éramos convidados
vários sacerdotes e carrascos nos viam juntos o que
gerava uma certa inveja neles e nos deixava muito
felizes , parávamos e comíamos nozes ou pedaços de
provolone
Quando meu terreno já estava plantado resolvi mudar
para sua terra , no começo fiquei pelos cantos até
que ele deixou que eu o ajudasse . O porto já tinha
seu lugar fixo e as bases de uma nave estranha ( mu
ndo ponte navio ) já estava ao largo do estuário
seco .
No meio deste tempo conhecemos uma pequena duende
japonesa que riscava paredes chamando de aspirado
res elefantes ou dinossauros àquilo que fazia
gastamos 15 dias na construçãso do iglú
os vulcões não foram acesos e meus livros foram
roubados
Como éramos gente do deserto , Löic e eu resolve
mos subir até a montanha na cidade das casas anti
gas , mais um quarto comprido e fino , nessa tarde
achamos um patinho de vidro provavelmente de se
colocar na frente de uma carro americano .
Agora estou de volta nesse continente estranho
cada cidade me mostra sua espécie de crise
desde aquela com pilares no rio e seu novo gover
no socialista . Passei também por aquela cidade luz
onde o rio tem várias pontes e vários palácios che
ios de guardas bravos que tem medo das bombas que
seus superiores mandam colocar para espantar seus
súditos e criar neles um espectro de racismo .
passei pelas termas de uma civilização romana e
cheguei até o lugar onde as pessoas põem o dinheiro
em contas secretas , no meio de bêbados reacioná
rios , vendedores de cobras de vidro e moedas
estrangeiras, encontrei uma América do Sul com
vulcões de lamparinas ( era um sinal , Löic est
va ali ) e pela segunda vez íamos nos encontrar ,
eu tinha a missão de dizer a ele que seu caminho
nessa terra tinha gerado frutos vermelhos e ouro
e aos depositantes isso lhes aprazia e ele devia
manter-se de olhos abertos para que algum maluco
não acabasse vendendo as pontas das unhas que ele
acabasse de cortar .
Mas , meu amigo Löic , tu és teu bom dono e sabes
manejar bem teu caiaque .
e eu que só sei de meu piccolo pianoforte que te
posso dizer? acho que deveria sim , dizer aos
mais habituados que nós somos hippies e que gosta
mos de garagens , nos custa suor fazer esses peque
nos mundinhos e nos
dão o prazer suficiente para aguentar vê-los troca
dos por dólares ou cruzados de prata ou quem sabe
dizer que somos cínicos ou ingênuos o bastante
para manejar os arcos e chamar o falcão que nossos
pais adestraram e fazem a nosso vigília .
Mas se sairmos do campo da representação sabemos
que os habituados também tem o seu ponto certo e
talvez já tenham cruzado o ar mais que nós
mas te digo também ( como Lawrence ) que
nós vamos cruzar esse deserto e chegar a Akaba , lá
começa a luta , a mais sangrenta .
Será que mataremos também como loucos ou veremos e
deixaremos os xerifes executarem os raptores das
belas sabinas .
volto para o Löic e lembro do riso que me deu
assim que desci do trem .
tínhamos palavras semelhantes para dizer e mais
uma vez estávamos sobre a mesma ponte ou sob ela
no mesmo rio , por isso não cumpri a missão de
fazer dele um bom manager .
Resolvemos esquecer que estávamos no concurso
e fomos à praia construir um vulcão de areia .
Löic era cristão tinha uma família e um aparta
mento no meio de uma cidade barroca , era especiali
sta em iglús e pontes metálicas , acho que rezava
todos os dias e também sabia o nome de alguns san
tos
fizemos alguns passeios e ele sabia o vocabulário
das árvores e das lojas de brinquedos
falava com os tambores as focas e os aviões , me
ensinou a língua dos aeromodelos e eu o ensinei
a tocar piano e a gostar de comida árabe
alguns podiam achar que era um moralista , mas
nem todos podiam entender que um cara podia gostar
apenas de fazer seus iglús e deixar que alguns
sonhadores tratem de comercializar isto ou aquilo que
ele deixou escapar
o transatlântico
blue
blue way
take me from here
oh my baby
I''m sure