antes, segunda-feira, acho:
ao esmo tempo em que é do lado
é muito longe
as distâncias, definitivamente, não são geográficas
desenharam no mapa só porque gostavam de desenhar
mas isso não tem nada a ver
ler na feira, de passagem
"só porque sou metódico escrevo
todos os dias de manhã em um dos cafés
do meu bairro um poema uma história"
aira pode rimar com aires
variações de declinação se fosse em latim
mas não
a llansol diria que o inverno é seu método
tudo é esse tempo suspenso
de não saber quando já é um poema ou não
porque continua ao poema
porque continua o poema
continua
e esse tempo
que desliza me dizendo:
aqui é seu futuro sendo seu passado
suena borges
mas nao
tempo cruzado de camadas
olhar pra portugal é meu presente
e estar aqui é meu futuro
estou embaralhada
olhar um desenho de há mais de 7 anos
atrás (redundante de tempo) e saber que aquele rosto que repousa imberbe
era dele e nao meu
juntos, num mesmo rosto
de mesmo nome
já sem saber se eu ou se você
quem nos encontraremos
no fim do dia
depois, repito jueves, reforçando o ju:
aquilo não era um poema
aquilo era um folha de caderno
de realidades cruzadas
de tempos de chegada
mesmo um erro que faz de mesmo esmo...
aquilo era o instante
porque o poema no momento é um susto
o poema mesmo vem depois, outro prazer
depois
de refazer
esse gesto de repetir e de querer fixar
o que nao se pode
o poema é outra coisa
e muitas vezes nessa outra coisa
desisto
talvez eu seja egoista em nao querer dividir com os outros
o que descobri
pq o poema é sempre uma partilha, uma armadilha de
uma troca
uma conversa mesmo que imaginária
o poema é o que está fora
não cabe
não se escreve
o poema experiencia outra coisa
esse, como outros dilemas
nao sao nunca vencidos
o poema é um combate
(pra puxar a llansol)
talvez de linguagem diga eu
junto com barthes e os loucos do sec xx
que fizeram das palavras esse outro lugar
árido
sinceramente ando muito desconfiada do lexico
que diz sobre o nosso tempo
deserto, deserto
bemvindos ao deserto do real?
por que, necessariamente, precisamos usar palavras tão áridas
pra ainda reiterar o dificil?
por que tem de ser dificil?
espero que por aí sempre bem
aqui vivo uma felicidade sem nome
donde experiencio a sensaçao de ser casada pela primeira vez
abra a mesa: o amor chegou, coloque as taças
o vinho, o pao, o amor chegou
e sonho com uma fartura de peixes
nos intervalos da llansol
pq estou dissertando aqui
caminho de uma livraria a outra olhando as vitrines
e como nao estou nada na argentina, já disse, aqui é meu futuro
olho pro edmond jabes, que há aqui,
por acaso na vitrine da livraria na av de las heras, aquela do norte
onde habito do lado
esse livro de las preguntas
cujo artigo mais bonito sobre li no derrida
da escritura e diferença
vês? nada de poetas novos
só poetas velhos
ainda o tempo é o passado
só pra dizer que a palavra corre em outro lado
longe
definitivamente escrever nao está na literatura