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o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

terça-feira, 6 de julho de 2010

Roberto Piva









 
  São Paulo, 25 de setembro de 1937 - 
  São Paulo, 3 de julho de 2010











poderia algum dia, Roberto Piva, como agora,
ser que víssemos nas tuas roupas neo-realistas,
na tua rica juventude, estuprada por São Paulo,
a quem odeia, São Paulo, mas a ela dá as tripas,
porque apenas em tripas e ódio nos damos todos,
e a criação vem necessariamente do ódio coletivo
de sermos, apesar do estupro-fascínio, dependentes
da beleza e das bandanas nos pescoços-caravaggio
e dos passos de sapatos com solas de madeira
descendo pelas escadas com a tinta paranóica.

quimicamente desejáveis e não é o que todos querem?

não, Piva, deus da sarjeta incandescente dos profetas,
eles querem tuas fotos nos jornais e mais meia dúzia
de poetas ordinários se refestelando sobre tua carne,
aos prantos, desejando a ti uma boa passagem,
e eles – é claro, Piva – ah, mas eles não sabem
das calçadas ensangüentadas, dos tiros noturnos,
e, muito menos ainda, Piva, eles sabem que não é
para ti este mundo, onde se enterram no papel
os poetas eternos: nesse jogo, disso eles sabem,
ficam as moscas e, atemporal, a carne apodrece. 
 

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