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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

sábado, 14 de agosto de 2010

as linhas da estrada - A1 - autres directions

vontade de receber um mail teu / d'alguém. andei descobrindo outras coisas da minha avó. essa planta que mandei, por exemplo, pra vocês, tem toda uma lógica se você ver de perto com calma. voltando de bruxelas. com vontade de parar. tenho deixado marcas. a palavra marca, a palavra malha, a palavra mancha, todas elas vêm de mácula, que em latim é o mesmo. a gente deixa rastros, traços, por onde passa. as vezes isso retorna e necessitamos rituais de purificação. em francês "gonflé" significa inchado, mas também "atrevido" ou de "saco cheio". podemos dizer que é o estado em que se cai após deixar muitas máculas por onde se passa. o jean-pierre vernant tem um texto chamado "o puro e o impuro" que li uma vez há anos, mas que volta e meia volta. sobre atingir uma certa iluminação através da mácula. como édipo. ser cego e ver. fazer sexo e sentir-se casto. a palavra mácula que é também karma. cair no rio lethe para esquecer e se lembrar. se banhar de esperma e sangue. beber a alma. etc etc. sou essencialmente carnívoro. no sentido grego do termo. comer carne para assumir a mortalidade. beber vinho e queimar a carne (holocausto) para purificar-se através da mácula. o contrário de pitágoras que propunha o vegetarianismo como forma de tornar-se imortal. é não assumir a mortalidade. é ver o tempo cíclico como uma forma de re-criar o mundo. de apagar as manchas, as pegadas. acordar de manhã bem cedo e dar tapas na cama para tirar nossas "huellas" do lençol. não escrever. não fazer sexo. não falar alto. jean-pierre vernant (muitos livros) e marcel detienne (dioniso ao céu, os mestres da verdade na grécia arcaica). me marcaram muito. acho que vou reler. enfim. cheguei. moro aqui. mas antes mesmo de sair do carro entrou neco, um francês bem francês, e disse que ia cortar o meu pau. falou com toda uma agressividade. disse, enfim, que deixo marcas, que arrisco sem refletir, que atravessei a fronteira duas vezes ilegal, sendo que a polícia poderia, pegando-me, apreender o carro e multar todos os que estavam comigo. não consegui dormir. no meu quarto o cheiro de outro alguém. objetos de outro alguém. um rádio, mapas de paris, livros novos, roupas, câmeras, edredons. de alguma forma tenho que por muitas cartas na mesa. é como se fosse uma nova rodada e dessa vez tivesse que deixar de blefar. amanhã iremos ao barbès, o bairro africano, para comer comida argelina. seremos nabila (argélia), ians (alemanha), voitek (polônia), piotr (polônia), talvez uma carioca et yo. gente demais para derivar? escrevo um texto influenciado pelo perec. terminei outro livro dele (que não gostei tanto). deixo meus cabelos crescerem como faz tempo não fazia. o projeto (acho que li demais, que tenho demasiadas idéias por dia, que é trop, que por isso concretizo menos do que devia). o teste de francês. sempre a instituição sobre as minhas costas, como o chapeleiro da alice sobre as costas do tempo (matando o tempo). xais pas quoi dire. hoje mais vinho, mais cerveja, mais cigarro. já nem fico bêbado. dormi num parking, num parque, num carro, num bunker, numa praia, na casa dele, dela, de outro alguém. cada dia uma cidade diferente. sempre o fassbinder. que filmou 41 filmes dos 25 aos 37. doze anos. sete camas. hoje falamos de ópio, de ecologia, de dominação feminina, de paixões, de guerras, de sexo. foi um dia de repente em que fiquei contente de não ter nenhuma mulher a vista. o buñuel para quem perguntaram "se você pudesse trocar algo no seu corpo, o que você mudaria?" "o fígado para beber mais e o pulmão para fumar mais. o pau eu já não quero mais. ele é a causa de todos os problemas." será que a gente algum dia vai aprender? porque as pessoas ainda vivem nos anos 50? porque é tudo tão rápido? será que estou envelhecendo com todas estas viagens? quando será que vou decolar? 800km por hora ainda não é o suficiente? o chão vibra. as gotas na janela se deformam e vão para trás. parece que tudo vai explodir a qualquer instante. mas ainda assim não decola. horloge / hor - loge / hora-logos. a rádio a música o movimento dos astros a place des vosges. uma catedral gótica. um texto. todas aquelas estátuas. um complexo habitacional. uma foto. todas aquelas estátuas. cinema = eixo rodoviário. teatro = rua. será que o rumo a tomar é fazer-se caminhoneiro à la osualdo candeias. ou comprar uma moto. para onde é que vamos? as estrelas aceleradas do star wars. de pontos se tornam linhas no espaço (que não é plano). quero ler deleuze e gattari. é como se já tivesse lido, mas para o projeto é importante. já não sei o que dizer. nunca sei se falo com alguém ou se é comigo mesmo. uma bolha. vivo na bolha. ela brilha. mas é asfixiante quand même. se bem que hoje a nabila disse : belle bulle. queria ir às falésias da normandia com você. será? estive lá e começaram a cair pedras lá de cima. um estrondo n'água. os pássaros enlouquecidos. uma fonte quase sem sal. todo um istmo atemporal. la mer verte. pleine des algues. ça