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[aStro-LáBio]°² = [diáRio de boRdo]°²

o tempo de uma gaveta aberta
é o tempo de uso de uma gaveta aberta
é o tempo de uma gaveta em uso
agora fechada a gaveta guarda
o tempo para trás levou
e não volta mais: voou





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érica zíngano | francine jallageas | ícaro lira | lucas parente

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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retrato talvez saudoso da menina insular.

Tinha o tamanho da praia
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
E quando as mãos se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
Largou o sonho nos barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
E quando o seu corpo se ergueu
Voltado para o desengano
só ficou tranqüilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retén.










natália correa.
nasceu a 13 de setembro de 1923 na ilha de são miguel (açôres).











quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A MORTE DO AUTOR Roland Barthes
in: O Rumor da Língua

Na sua novela Sarrasine, Balzac, falando de um castrado disfarçado de mulher, escreve esta frase: «Era a mulher, com os seus medos súbitos, os seus caprichos sem razão, as suas perturbações instintivas, as suas audácias sem causa, as sua bravatas e a sua deliciosa delicadeza de sentimentos. - Quem fala assim? Será o herói da novela, interessado em ignorar o castrado que se esconde sob a mulher? Será o individuo Balzac, provido pela sua experiência pessoal de uma filosofia da mulher? Será o autor Balzac, professando idéias «literárias» sobre a feminilidade? Será a sabedoria universal? A psicologia romântica? Será para sempre impossível sabê-lo, pela boa razão de que a escrita é destruição de toda a voz, de toda a origem. A escrita é esse neutro, esse compósito, esse obliquo para onde foge o nosso sujeito, o preto-e-branco aonde vem perder-se toda a identidade, a começar precisamente pela do corpo que escreve.
Sem dúvida que foi sempre assim: desde o momento em que um fato é contado, para fins intransitivos, e não para agir diretamente sobre o real, quer dizer, finalmente fora de qualquer função que não seja o próprio exercício do símbolo, produz-se este desfasamento, a voz perde a sua origem, o autor entra na sua própria morte, a escrita começa. Todavia, o sentimento deste fenômeno tem sido variável; nas sociedades etnográficas não há nunca uma pessoa encarregada da narrativa, mas um mediador, châmane ou recitador, de que podemos em rigor admirar a prestação» (quer dizer, o domínio do código narrativo), mas nunca o «gênio». O autor é uma personagem moderna, produzida sem dúvida pela nossa sociedade, na medida em que, ao terminar a idade Média, com o empirismo inglês, o racionalismo francês e a fé pessoal da Reforma, ela descobriu o prestigio pessoal do indivíduo, ou como se diz mais nobremente, da «pessoa humana». É pois lógico que, em matéria de literatura, tenha sido o positivismo, resumo e desfecho da ideologia capitalista, a conceder a maior importância à «pessoa» do autor. O autor reina ainda nos manuais de história literária, nas biografias de escritores, nas entrevistas das revistas, e na própria consciência dos literatos, preocupados em juntar, graças ao seu diário intimo, a sua pessoa e a sua obra; a imagem da literatura que podemos encontrar na cultura corrente é tiranicamente centrada no autor, na sua pessoa, na sua história, nos seus gostos, nas suas paixões; a crítica consiste ainda, a maior parte das vezes, em dizer que a obra de Baudelaire é o falhanço do homem Baudelaire, que a de Van Gogh é a sua loucura, a de Tchaikowski o seu vício: a explicação da obra é sempre procurada do lado de quem a produziu, como se, através da alegoria mais ou menos transparente da ficção, fosse sempre afinal a voz de uma só e mesma pessoa, o autor, que nos entregasse a sua «confidencia».
Apesar de o império do Autor ser ainda muito poderoso (a nova crítica não fez muitas vezes senão consolidá-lo), é evidente que certos escritores já há muito tempo que tentaram abalá-lo. Em França, Mallarmé, sem dúvida o primeiro, viu e previu em toda a sua amplitude a necessidade de pôr a própria. linguagem no lugar daquele. que até então se supunha ser o seu proprietário; para ele, como para nós,. é a linguagem que fala, não é o autor; escrever é, através de uma impessoalidade prévia - impossível .de alguma vez ser confundida com a objetividade castradora do romancista realista -, atingir aquele ponto em que só a linguagem atua, «performa», e não «eu»: toda a poética de Mallarmé consiste em suprimir. 0 autor em proveito da escrita (o que é, como veremos, restituir o seu lugar ao leitor). Valéry, muito envolvido numa psicologia do Eu, edulcorou .muito a teoria mallarmeana, mas, reportando-se por gosto do classicismo às lições da retórica, não cessou de pôr em dúvida e em irrisão o Autor, acentuou a natureza lingüística e como que «arriscada» da sua atividade, e reivindicou sempre, ao longo dos. seus livres em prosa, em favor da condição essencialmente verbal da literatura, perante a qual qualquer recurso à interioridade do escritor lhe parecia pura superstição. O próprio Proust, a despeito do caráter aparentemente psicológico daquilo a que chamam as suas análises, atribuiu-se visivelmente a tarefa de confundir inexoravelmente, por uma subtilização extrema, a relação entre o escritor e as suas personagens: ao fazer do narrador, não aquele que viu ou sentiu, nem sequer aquele que escreve, mas aquele que vai escrever (o jovem do romance - mas, afinal, que idade tem ele, e quem é ele? quer escrever, mas não pode, e o romance termina quando finalmente a escrita se torna possível), Proust deu à escrita moderna a sua epopéia: por uma inversão radical, em lugar de pôr a sua vida no seu romance, como se diz freqüentemente,. fez da sua própria vida uma obra, da qual o seu livro foi como que o modelo, de modo que nos fosse bem evidente que não é Charlus que emita Montesquiou, mas que Montesquiou, na sua realidade anedótica, histórica, não é senão um fragmento secundário, derivado, de Charlus. O Surrealismo enfim, para ficarmos por esta pré-história da modernidade, não  podia atribuir à linguagem um lugar soberano, na medida em que a linguagem é sistema, uma subversão direta dos códigos aliás ilusória, porque. um código não se pode destruir, apenas podemos «jogá-lo» -; mas, ao recomendar sem cessar a ilusão brusca dos sentidos esperados (era o famoso «safanão» surrealista), ao confiar à mão a preocupação de escrever tio depressa quanto possível o que a própria cabeça ignora (era a escrita automática), ao aceitar o principio e a experiência de uma escrita a vários, o Surrealismo contribuiu para dessacralizar a imagem do Autor. Enfim, de fora da própria literatura (a bem dizer, estas distinções tornam-se obsoletas), a lingüística acaba de fornecer à destruição do Autor um instrumento analítico precioso, ao mostrar' que a enunciação é inteiramente um processo vazio que funciona na perfeição sem precisar de ser preenchido pela pessoa dos' 'interlocutores'; linguisticamente," o autor nunca é nada mais para além daquele que escreve,' tal' como eu não é senão aquele que diz eu: a linguagem conhece um «sujeito», não uma «pessoa», e. esse sujeito, vazio fora da própria enunciação que o define, basta para fazer «suportar» a linguagem, quer dizer, para a esgotar. O afastamento do Autor (com Brecht, poderíamos falar aqui de um verdadeiro «distanciamento»,' diminuindo o Autor como uma figurinha lá ao fundo da cena literária) não é apenas um fato histórico ou um ato de
escrita: ele transforma de ponta a ponta o texto moderno (ou o que é a mesma coisa - o texto é a partir de agora feito e lido de tal sorte que nele, a todos os seus níveis, o autor se ausenta). O tempo, em primeiro lugar, já não é o mesmo. O Autor, quando se acredita nele, é sempre concebido como o passado do seu próprio livro: o livro e o autor colocam-se a si próprios numa mesma linha, distribuída como um antes e um depois: supõe-se que o Autor alimenta o livro, quer dizer que existe antes dele, pensa, sofre, vive com ele; tem com ele a mesma relação de antecedência que um pai mantém com o seu filho. Exatamente ao contrário, o scriptor moderno nasce ao mesmo tempo que o seu texto; não está de modo algum provido de um ser que precederia ou excederia a sua escrita, não é de modo algum o sujeito de que o seu livro seria o predicado; não existe outro tempo para além do da enunciação, e. todo o texto é escrito eternamente aqui e agora. É que (ou segue-se que) escrever já não pode designar uma operação de registro, de verificação, de «pintura» (como diziam os Clássicos), mas sim aquilo a que os lingüistas, na, seqüência da filosofia oxfordiana, chamam um performativo, forma verbal rara (exclusivamente dada na primeira pessoa e no presente), na qual a enunciação não tem outro conteúdo (outro enunciado) para além do ato pelo qual é proferida: algo como o Eu declaro dos reis ou o Eu canto dos poetas muito antigos; o scriptor moderno, tendo enterrado o Autor, já não pode portanto acreditar, segundo a visão patética dos seus predecessores, que a sua mão é demasiado lenta para o seu pensamento ou a sua paixão, e que em conseqüência, fazendo uma lei da necessidade, deve acentuar esse atraso e. «trabalhar» indefinidamente a sua forma; para ele, ao contrário, a sua mão, desligada de toda a voz, levada por um puro gesto de inscrição (e não de expressão), traça um campo sem origem - ou que, pelo menos, não tem outra origem para lá da própria linguagem, isto é, exatamente aquilo que repõe incessantemente em causa toda a origem.
Sabemos agora que um texto não é feito de uma linha de palavras, libertando um sentido único, de certo modo teológico (que seria a «mensagem» do Autor-Deus), mas um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escritas variadas, nenhuma das quais é original: o texto é um tecido de citações, saldas dos mil focos da cultura. Parecido com Bouvard e Pécuchet, esses eternos copistas, ao mesmo tempo sublimes e cômicos, e cujo profundo ridículo designa precisamente a verdade da escrita, o escritor não pode deixar de imitar um gesto sempre anterior, nunca original; o seu único poder é o de misturar as escritas, de as contrariar umas às outras, de modo a nunca se apoiar numa delas; se quisesse exprimir-se, pelo menos deveria saber que a «coisa» interior que tem a pretensão de «traduzir» não passa de um dicionário totalmente composto, cujas palavras só podem explicar-se através de outras palavras, e isso indefinidamente: aventura que adveio exemplarmente ao jovem Thomas de Quincey, tio bom em grego que, para traduzir para esta línguamorta idéias e imagens absolutamente modernas, diz-nos Baudelaire, «tinha criado para si um dicionário sempre pronto, muito mais complexo e extenso do que aquele que resulta da vulgar paciência dos temas puramente literários» (Os Paraísos Artificiais); sucedendo ao Autor, o scriptor não tem já em si paixões, humores, sentimentos, impressões, mas
sim esse imenso dicionário onde vai buscar uma escrita que não pode conhecer nenhuma paragem: a vida nunca faz mais do que imitar o livro, e esse livro não é ele próprio senão um tecido de signos, imitação perdida, infinitamente recuada.
Uma vez o autor afastado, a pretensão de «decifrar» um texto torna-se totalmente inútil. Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de segurança, é dotá-lo de um significado último, é fechar a escrita. Esta concepção convém perfeitamente à critica, que pretende então atribuir-se a tarefa importante de descobrir o Autor (ou as suas hipóstases: a sociedade, a história, a psique, a liberdade) sob a obra: encontrado o Autor, o texto é «explicado», o critico venceu; não há pois nada de espantoso no fato de, historicamente, o reino do Autor ter sido também o do Critico, nem no de a critica (ainda que nova) ser hoje abalada ao mesmo tempo que o Autor. Na escrita moderna, com efeito, tudo está por deslindar, mas nada está por decifrar; a estrutura pode ser seguida, «apanhada» (como se diz de uma malha de meia que cai) em todas as suas fases e em todos os seus níveis, mas não há fundo; o espaço da escrita percorre-se, não se perfura; a escrita faz incessantemente sentido, mas é sempre para o evaporar; procede a uma isenção sistemática do sentido, por isso mesmo, a literatura (mais valia dizer, a partir de agora, a escrita), ao recusar consignar ao texto (e ao mundo como texto) um «segredo», quer dizer, um sentido último, liberta uma atividade a que poderíamos chamar contra teológica, propriamente revolucionária, pois recusar parar o sentido é afinal recusar Deus e as suas hipóstases, a razão, a ciência, a lei.
Regressemos à frase de Balzac. Ninguém (isto é, nenhuma «pessoa») a disse: a sua origem, a sua voz não é o verdadeiro lugar da escrita, é a leitura. Um exemplo, bastante preciso, pode fazê-lo a compreender: investigações recentes (J.-P. Vernant) trouxeram à luz a natureza constitutivamente ambígua da tragédia grega; o texto é nela tecido com palavras de duplo sentido, que cada personagem compreende unilateralmente (este perpétuo mal-entendido é precisamente o «trágico»); há contudo alguém que entende cada palavra na sua duplicidade, e entende, além disso, se assim podemos dizer, a própria surdez das personagens que falam diante dele: esse alguém é precisamente o leitor (ou, aqui, o ouvinte). Assim se revela o ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor: o leitor é o espaço exato em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que uma escrita é feita; a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino, mas este destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; é apenas esse alguém que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito. É por isso que é irrisório ouvir condenar a nova escrita em nome de um humanismo que se faz hipocritamente passar por campeio dos direitos do leitor. O leitor, a critica clássica nunca dele se ocupou; 'para ela, não há na literatura qualquer outro homem para além daquele que escreve. Começamos hoje a deixar de nos iludir com essa espécie de antifrases pelas quais a boa sociedade recrimina soberbamente em favor daquilo que precisamente põe de parte, ignora, sufoca ou destrói; sabemos que, para devolver à escrita o seu devir, é preciso inverter o seu mito: o nascimento do leitor tem de pagar-se com a morte do Autor.

1968, Manteia.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

post do passado

uma vez fiz um post que tinha : um texto - pensado antes. uma foto - tirada na hora.

post do futuro

estou planejando um post com : algumas fotos - tiradas antes. e um texto - feito na hora.

filosofia de cama

ó!

ficar doente só não é pior
do que ficar sem dente!

ecos da plateia


queridos,

o poeta josé paulo diz que se sente muito feliz 
com a revista, quer dizer, almanaque
porque sabe que o lobisomem
mesmo sendo uma recuperação transgênica 
do frankstein que ele pensava como imagem 
do homem moderno é uma imagem paradigmática 
para a inserção e introspecção do homem contemporâneo

"essa recuperação
do trans-humano
é muito pertinente
nos dias de hoje
felicidades
ah,
e não deixem de dançar"

abs, paes

já o jurado pedro de lara deu 3 grandes buzinadas
em comemoração ao festivo/cabalístico/nascimento:

no critério de impactação, magnitude e vislumbre, 
a revista vai muito bem
no que concerne o estrondo, a megalomania e o delírio 
a revista vai muito bem também
ou seja, não tenho do que reclamar, 
porque a revista vai sempre muito bem obrigada,

- vai uma dancinha pra animar a plateia?

dona grete maravilha, desculpem, elke maravilha
disse que esse vermelho é tendência
e já mostrou pra manicure 
a cor da estação é vermelho 
TOMATE

puro delírio púrpura
puro sangue
desejo de boca aberta 
dentes à flor da pele
mastiga mais forte
que eu gosto
vem homem peludo das alturas
vem do hemisfério norte
vai 
tony ramos que esse papel não é pra você
vem poeta lobo homem 
mistura tudo
lobisomem
e vem
vermelho paixão
selvagem
sedução

(eh, desculpem os arroubos,
ela ficou um pouco exaltada, 
tamanho jorro de vermelho 
sobre a tela branca)

sem mais para notícias do mundo literário
damos então  3 salvas  vivas de palma
para essa que já é o frescor quente, quentíssimo
das nossas letras literárias
durante a estação

aÊêÊÊêÊêêê

bez

almanaque lobisomem

Respeitável público,

o Excelso Pretório, doravante denominado Conselho da Licantropia, sempre chama a si a colmatagem e superação das lacunas, omissões e imperfeições da norma fundamental, isto é: no último conclave do referido Conselho, realizado a bordo da Nau Abelardo Barbosa, o Ilustríssimo Senhor Presidente da presente instituição, o Coringa, abroquelou que, com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo consuetudinário, por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com amplo supedâneo na Carta Política assinada pelos demais componentes de tão idôneo Conselho, a saber: Macunaíma, Chacrinha, Woody Woodpecker, Goober, O Coringa, François Villon, Ed Wood, Adam Worth, Didi Mocó Sonrisal Nevalgino Mufungo, Lemmy Kilmister, Hélio Oiticica, Hans Arp, Allen Ginsberg, Fantomas, Nhá Barbina, Bento Carneiro, Ludwig van Beethoven, Mefistófeles, entre outros, os quais não preceituam garantia ao cotencioso nem absoluta nem ilimitada, padecendo ao revés dos temperamentos constritores limados pela dicção do legislador infraconstitucional, resulta de meridiana clareza que ALMANAQUELOBISOMEM finalmente estará à disposição para download no link


à meia-noite, ao raiar da Lua Cheia desta exordial sexta-feira 13 de agosto de 2010.

Sem mais,

Os Editores



Os meliantes

ADBUSTERS + ALBERTO MARTINS + ALFRED DÖBLIN + ANDRÉ FERNANDES + ANDRÉA CATRÓPA + ANNE SEXTON + ARNALDO ANTUNES + AVELINO DE ARAUJO + BANKSY + CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE + CARLOS MARIGHELLA + CHRISTIAN MORGENSTERN + CORINGA + DIEGO DE SOUSA + DIEGO VINHAS + DINIZ GONÇALVES JÚNIOR + DIRCEU VILLA + EDUARDO GALEANO + E.E. CUMMINGS + ÉRICA ZÍNGANO + FABIANO CALIXTO + FABIO CAMARNEIRO + FABRÍCIO CORSALETTI + FABRÍCIO MARQUES + FERNANDA SERRA AZUL + FLÁVIO RODRIGO PENTEADO + FLORA ASSUMPÇÃO + GABRIEL PEDROSA + HEINRICH BÖLL + HELIO NERI + HERIBERTO YÉPEZ +HERSCHEL PINKUS YERUCHAM KRUSTOFSKI + JEAN STAROBINSKI + JOHN ASHBERY + JOHN ZERZAN + JIM MORRISON + JULIANA AMATO + JULIANA MARKS + JÚLIO BARROSO + KAREN REVISITED + LAURA WITTNER + LAURIE ANDERSON + LEANDRO RODRIGUES + LEDUSHA + LEONARDO MARTINELLI + LETÍCIA COSTA + LILIAN AQUINO + MARCELLO VITORINO + MARCELO FERREIRA DE OLIVEIRA + MARCELO MONTENEGRO + MARCELO SAHEA + MÁRCIO-ANDRÉ + MARIANO MAROVATTO + MARÍLIA GARCIA + MÁRIO BORTOLOTTO + MARIO SAGAYAMA + MARCO BUTI + NICK DRAKE + NICOLAS BEHR + NÍCOLLAS RANIERI + PABLO ORTELLADO + PAULO RODRIGUES + PAULO STOCKER + PATRÍCIA AUGUSTA CORRÊA + PEDRO GALÉ + PRISCILA MANHÃES + QORPO-SANTO + RENAN NUERNBERGER + R. PONTS + RICARDO DOMENECK + RICARDO SILVEIRA + ROBERTO BOLAÑO + RODRIGO LOBO DAMASCENO + ROGÉRIO SGANZERLA + SAPATEIRO SILVA + SÉRGIO RAIMONDI + SYLVIA BEIRUTE + THAIS MONTEIRO + THE BEATLES + TIAGO PINHEIRO + TOM VIOLENCE + TOM WAITS + WILLIAM SHAKESPEARE + ZHÔ BERTHOLINI




Para quem não viu os filmes promocionais da revista, aqui:




+

A arte que a gente acredita (contrapoética):







O Almanaque Lobisomem é feito por brancos, pretos, amarelos, índios, mestiços, mulatos, cafuzos, pardos, mamelucos, sararás, crilouros, guaranisseis, judárabes, orientupis, ameriquítalos, lusonipos, caboclos, iberibárbaros, indociaganagôs, tupinamboclos, paulistas, pernambucanos, gregos, baianos, troianos, nicaraguenses, andreenses, cubanos, noruegueses, chilenos, iraquianos... cidadãos do mundo, enfim.

domingo, 15 de agosto de 2010




 

 

 



rua do horto,
juazeiro, ceará.
julho de 2010

lucas parente para francine, erica, mim

mostrar detalhes 14:54 (20 horas atrás)


- sete alternativas contra a solidão
- rituais de purificação à prova de poluição
- diálogos desejados
- sol sempre disponível
- idas e vindas :
voltas e revoltas
- lugar de buscar rumo

sábado, 14 de agosto de 2010

as linhas da estrada - A1 - autres directions

vontade de receber um mail teu / d'alguém. andei descobrindo outras coisas da minha avó. essa planta que mandei, por exemplo, pra vocês, tem toda uma lógica se você ver de perto com calma. voltando de bruxelas. com vontade de parar. tenho deixado marcas. a palavra marca, a palavra malha, a palavra mancha, todas elas vêm de mácula, que em latim é o mesmo. a gente deixa rastros, traços, por onde passa. as vezes isso retorna e necessitamos rituais de purificação. em francês "gonflé" significa inchado, mas também "atrevido" ou de "saco cheio". podemos dizer que é o estado em que se cai após deixar muitas máculas por onde se passa. o jean-pierre vernant tem um texto chamado "o puro e o impuro" que li uma vez há anos, mas que volta e meia volta. sobre atingir uma certa iluminação através da mácula. como édipo. ser cego e ver. fazer sexo e sentir-se casto. a palavra mácula que é também karma. cair no rio lethe para esquecer e se lembrar. se banhar de esperma e sangue. beber a alma. etc etc. sou essencialmente carnívoro. no sentido grego do termo. comer carne para assumir a mortalidade. beber vinho e queimar a carne (holocausto) para purificar-se através da mácula. o contrário de pitágoras que propunha o vegetarianismo como forma de tornar-se imortal. é não assumir a mortalidade. é ver o tempo cíclico como uma forma de re-criar o mundo. de apagar as manchas, as pegadas. acordar de manhã bem cedo e dar tapas na cama para tirar nossas "huellas" do lençol. não escrever. não fazer sexo. não falar alto. jean-pierre vernant (muitos livros) e marcel detienne (dioniso ao céu, os mestres da verdade na grécia arcaica). me marcaram muito. acho que vou reler. enfim. cheguei. moro aqui. mas antes mesmo de sair do carro entrou neco, um francês bem francês, e disse que ia cortar o meu pau. falou com toda uma agressividade. disse, enfim, que deixo marcas, que arrisco sem refletir, que atravessei a fronteira duas vezes ilegal, sendo que a polícia poderia, pegando-me, apreender o carro e multar todos os que estavam comigo. não consegui dormir. no meu quarto o cheiro de outro alguém. objetos de outro alguém. um rádio, mapas de paris, livros novos, roupas, câmeras, edredons. de alguma forma tenho que por muitas cartas na mesa. é como se fosse uma nova rodada e dessa vez tivesse que deixar de blefar. amanhã iremos ao barbès, o bairro africano, para comer comida argelina. seremos nabila (argélia), ians (alemanha), voitek (polônia), piotr (polônia), talvez uma carioca et yo. gente demais para derivar? escrevo um texto influenciado pelo perec. terminei outro livro dele (que não gostei tanto). deixo meus cabelos crescerem como faz tempo não fazia. o projeto (acho que li demais, que tenho demasiadas idéias por dia, que é trop, que por isso concretizo menos do que devia). o teste de francês. sempre a instituição sobre as minhas costas, como o chapeleiro da alice sobre as costas do tempo (matando o tempo). xais pas quoi dire. hoje mais vinho, mais cerveja, mais cigarro. já nem fico bêbado. dormi num parking, num parque, num carro, num bunker, numa praia, na casa dele, dela, de outro alguém. cada dia uma cidade diferente. sempre o fassbinder. que filmou 41 filmes dos 25 aos 37. doze anos. sete camas. hoje falamos de ópio, de ecologia, de dominação feminina, de paixões, de guerras, de sexo. foi um dia de repente em que fiquei contente de não ter nenhuma mulher a vista. o buñuel para quem perguntaram "se você pudesse trocar algo no seu corpo, o que você mudaria?" "o fígado para beber mais e o pulmão para fumar mais. o pau eu já não quero mais. ele é a causa de todos os problemas." será que a gente algum dia vai aprender? porque as pessoas ainda vivem nos anos 50? porque é tudo tão rápido? será que estou envelhecendo com todas estas viagens? quando será que vou decolar? 800km por hora ainda não é o suficiente? o chão vibra. as gotas na janela se deformam e vão para trás. parece que tudo vai explodir a qualquer instante. mas ainda assim não decola. horloge / hor - loge / hora-logos. a rádio a música o movimento dos astros a place des vosges. uma catedral gótica. um texto. todas aquelas estátuas. um complexo habitacional. uma foto. todas aquelas estátuas. cinema = eixo rodoviário. teatro = rua. será que o rumo a tomar é fazer-se caminhoneiro à la osualdo candeias. ou comprar uma moto. para onde é que vamos? as estrelas aceleradas do star wars. de pontos se tornam linhas no espaço (que não é plano). quero ler deleuze e gattari. é como se já tivesse lido, mas para o projeto é importante. já não sei o que dizer. nunca sei se falo com alguém ou se é comigo mesmo. uma bolha. vivo na bolha. ela brilha. mas é asfixiante quand même. se bem que hoje a nabila disse : belle bulle. queria ir às falésias da normandia com você. será? estive lá e começaram a cair pedras lá de cima. um estrondo n'água. os pássaros enlouquecidos. uma fonte quase sem sal. todo um istmo atemporal. la mer verte. pleine des algues. ça

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

domingo, 8 de agosto de 2010

desculpe a invasão de privacidade,


QUINTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2010


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cozinha,três da manhã.
francine sentada na pia
eu,lavo a louça.
ela corta um pimentão eu cebola
temos três cigarros que são economizados ao máximo
o telefone toca tentamos fingir que ele não toca.
na radio mec fm,a voz do locutor explica adagio,andante,alegro
elaeu levanta da cama abre a janela chuva fina
xuxu fala de artaud enquanto faz auto retrato meu
comida pronta. comemos hablamos de sp
matisse movimento interno da pintura
desolação de los angeles
lavar os pratos,lavar os pratos comprar cigarros fazer café
fazer mais café
dormi de cansado
baibe acordada lendo
travesseiro de braço.


























Imagem:
Cozinha entupida de gente.
Todas as gentes voltadas para a pia, onde uma mulher pica uma cebola.
Todas as gentes choram. São rostos vestidos de maquiagem excessiva borrada pelas lágrimas, o exagero está na abundância de lágrimas e pintura sobre o rosto, mas não nas transições da expressão facial das gentes, que é quase fixa, depois de posicionada, é blazé, se mantém onde está, só isso.
A câmera funciona como mais uma gente que entra na cozinha, e então captura todos de costas; são cabeças. Essa primeira imagem se parece com gentes assistindo a um show, quando vistas de costas por uma das gentes na multidão. A câmera percorre, atravessa a multidão, não captura rostos ainda, quando finalmente chega na mulher que corta cebolas e no limite da cozinha (a pia), vai pra cebola, pra faca, punhos, peito e rosto da mulher que corta. Agora está voltada de frente para as gentes, flagra os rostos, pausa. O coro de rostos é quase imóvel. As pessoas fazem só o movimento mínimo com os rostos, como piscar e engolir saliva, mas se mantém - ou com a boca aberta, ou com a boca fechada, olhos abertos que olham para o alto, olhos fechados, etc, há uma variedade de expressões. A câmera então vai voltando, flagrando os rostos chorosos. O primeiro rosto é da própria que corta a cebola, os demais funcionam como eco desta.
A câmera deixa a cozinha.
Áudio:
Paixão segundo São Matheus (Bach)  



f.jallageas

é meio anos 80 afinal

talvez você me diga que não, que são os óculos da ray-ban que estão na moda e eu repito que não, é um poema

A noir, E blanc, I rougeU vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes :
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,
Golfes d'ombre ; E, candeur des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles ;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes ;
U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux ;
O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silence traversés des Mondes et des Anges :
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux ! -

porque gosto de cores, como a benetton

de alguma forma 
(em minha vista é muito claro)
escrevi algo
(dando continuidade ao que iniciei
com eu decepciono/ele ascendente)
que está em diálogo 
com teu auto-retrato baconiano
desfigurado e borrado
tua legenda emprestada
eu sou outro:

eu
que se pronuncia
na boca
antes que ela fale
na cara
antes que ela se transforme

nos traços a interpretar
do rosto ainda mal formado

vem ver o céu (des)moldado
pelos beijos do vento nas nuvens

é a face sem rosto
o sexo dos astros
a mentira das estrelas

céu-rosto pobre
da psicologia

manchas de sangue pisado
borrões escuros beirando os orifícios da visão
fabricados nas noites de pergunta infinita

vinda do oráculo
às margens dos cílios
uma linhazinha branca

contorna o hábito de esvaziar-se
da água de que se preenche

sobre a planície porosa
lambida pelo vento
(de)formando cavalos
quase cachorros tornados casa
depois vaso sobre mesa e ônibus
uma conversa de mulheres quase barulho
de crianças na escola às quatro da tarde
quando há velhas cantigas

eu

nunca paro de escutar
quando abro os olhos

de manhã às vezes
já estou cansada

porque escutei demais
durante a noite

e jamais
a noite
é pausa

eu

escuto
desde o dia
do nascimento

eu

que me lembre.




f. jallageas
"
JE
EST
UN 
AUTRE

              "